sábado, maio 30, 2009

criar feição ou tomar sal

- "Ainda está criando feição." A expressão surge como uma espécie de promessa e refere-se sempre a uma pessoa, normalmente um ou uma adolescente.
Diz-se dos jovens, naquela fase em que o rosto vai mudando e parece estranho, com borbulhas, com um nariz desproporcional, que estão ainda criando feição.
Depois de todas essas transformações naturais da idade, o certo é ficarem mais bonitos, já com o seu rosto de traços definidos, únicos, espelho de uma personalidade.
No meu Sítio, para além de "criar feição", diz-se, com o mesmo significado: "Ainda está tomando sal", ou "Ainda está temperando".
- "Ele ainda está tomando sal...mas vão ver quando estiver temperado, vai ser um belo rapaz." E estas previsões acertam sempre.

quinta-feira, maio 28, 2009

Minha Salvação!

Nunca mais ouvi ninguém dizer "Minha Salvação!" Esta expressão era uma espécie de juramento em que se podia confiar. Quem vinculava à sua salvação aquilo que dizia, estava com certeza a falar a verdade, e não era preciso mais nada. Belos tempos!
Era uma fórmula muito usada, às vezes até em demasia, como no caso de um dos meus avós que em relação a quase tudo o que dizia acrescentava "Minha Salvação", já mais como hábito do que por necessidade de que nele acreditassem.
Havia quem tentasse usar o diminutivo da expressão e dissesse: "Minha Salvinha!"
Salvação ou Salvinha, o que interessa é que as pessoas colocavam a verdade ao nível da salvação da sua alma, tratavam-na como algo valioso. Por onde anda hoje a verdade? A que nível está? Tem algum valor? Quem souber que responda.

terça-feira, maio 26, 2009

arregoar

- "Está arregoando!" Olhei e confirmei que era verdade. Estavam a abrir-se fendas numa parte da parede e eu compreendi o lamento. - "Sim, está arregoando..." Por vezes basta isto para demonstrar solidariedade, às vezes as pessoas procuram apenas que alguém confirme os seus receios, mais nada.
E o verbo arregoar ficou ali, dito e repetido, desafiando tudo e todos. Ficou à espera que eu o agarrasse e colocasse aqui e foi o que eu fiz. Enquanto o arrumava numa espécie de arquivo mental, reparei nas mãos do agricultor...todas arregoadas mas de um a beleza comovente. Quase todas as palavras têm este dom, de não serem uma coisa só.

sexta-feira, maio 22, 2009

afilhados e afilhadas

Desde pequena que ouço dizer isto: "Uma rapariga deve ter como primeiro afilhado um rapaz." Porque sendo um rapaz traz sorte. As afilhadas meninas só devem vir depois...não trazem a desejada sorte.
Ora, esta é uma das tais superstições que me irritam profundamente. Nada me faz seguir crenças que discriminam o género feminino, e a prová-lo está o facto de ser madrinha de duas raparigas e de nenhum rapaz. Gosto muito das minhas afilhadas, que me fazem sentir uma sortuda.

terça-feira, maio 19, 2009

a sorte dos meninos e o azar das meninas

Nas superstições, o género feminino sempre foi associado ao azar e o masculino à sorte. Até nos sonhos! Dizem os antigos que é bom sonhar com meninos e mau sonhar com meninas. Sonhar com meninas é sinal de desgosto, com meninos sinal de sorte, fortuna.
Às outras superstições acho piada, a estas não acho. Soa a discriminação, machismo, ou à simples constatação que os homens sempre tiveram a vida mais fácil do que as mulheres.
Eu sonho muito e por vezes entram bebés nos complexos enredos dessas aventuras nocturnas. É mais frequente as personagens infantis serem femininas, talvez devido à minha própria experiência de mãe de uma rapariga. Será por isso, por causa desses sonhos, que por vezes há ondas de azar que parecem intermináveis?

domingo, maio 17, 2009

para a brabeza dos bebés

Quando um bebé era brabo, havia uma receita muito simples e natural, que resolvia logo o problema. Passava-se a deitar o bebé com a cabeça voltada para os pés da cama e a brabeza desaparecia. O bebé tornava-se sossegado e bonzinho, dormia quando tinha de dormir, não gritava sem necessidade, não fazia birras.
Claro que esta receita se aplica apenas aos bebés. Infelizmente.

quinta-feira, maio 14, 2009

Vai se dar

Na mesa ao lado da minha estava um casal de namorados que me chamou a atenção pelo facto de os dois serem extremamente parecidos. Tinham a mesma cor de cabelo, os mesmos olhos, o mesmo tipo de nariz, o mesmo sorriso feliz. Estavam um em frente do outro, era como se estivessem a ver-se ao espelho. Pareciam irmãos e eu lembrei-me logo do que a minha avó diria se os visse: - "São parecidos. Vai se dar..." Este "vai se dar" era a forma que ela tinha de dizer que o namoro ia dar certo e que acabaria inevitavelmente num bom casamento.
Esta é uma crença popular de que me lembro de vez em quando, sempre que reparo num casal assim, com muitas semelhanças físicas. Talvez seja apenas coincidência. Ou talvez não. Talvez haja alguma razão inconsciente para que as pessoas procurem um semelhante, como se se procurassem a si mesmas e se encontrassem no outro.

terça-feira, maio 12, 2009

Pá vista disto...

- "Pá vista disto.......". Acabo de ouvir esta engraçada forma de fazer uma comparação. Talvez por ser ainda tão comum, nunca lhe tinha prestado atençã0.
O povo faz assim quase todas as comparações. E para melhor se fazer entender, também exagera. "Pá vista desta, a outra casa é um palácio."
"Pá vista de..." é a nossa expressão popular que significa "comparando com..." É uma expressão que tem tendência a ser usada com cada vez mais frequência, porque como se sabe as assimetrias aumentam sempre em tempos de crise.

domingo, maio 10, 2009

o barbante dos foguetes

Em vez da romaria de antigamente, este ano apenas um homem carregando os foguetes acompanhava os três elementos de capas vermelhas, dois carregando as bandeiras e outro a bandeja com o saco das ofertas para o Espírito Santo. Ao aproximar-se de cada casa, o homem dos foguetes descansava o molho e lançava o foguete que, por tradição, anuncia a chegada das insígnias do Espírito Santo.
Noutros tempos, o fogueteiro apenas lançava os foguetes. Era outro rapaz que carregava o molho por entre caminhos e veredas. Um bando de miúdos acompanhava também o cortejo.
Quando o fogueteiro se preparava para lançar o foguete, ficavam todos em sentido. Os pequenos fixavam o foguete e ficavam muito atentos para tentar perceber em que local cairia a cana. Depois desatavam a correr, a saltar poios, ribeiros e caminhos para tentar chegar-lhe primeiro. Era uma algazarra.
Os pequenos disputavam assim o que restava dos foguetes para aproveitar o barbante que nessa altura vinha enrolado nos foguetes. Tentavam arranjar o máximo possível desse barbante para com ele altearem joeiras. E por isso, porque os pequenos queriam arranjar barbante para as joeiras, vinha uma autêntica romaria a acompanhar os Espírito Santo, enchendo os terreiros das casas de uma animada movimentação.

sexta-feira, maio 08, 2009

bazarouco e borquilha

"- Já tens esta palavra? E aquela?" Eu fico contente. Sorrio. Anoto num papelinho, agradeço e na primeira oportunidade coloco nesta página o novo contributo.
Foi assim, através do contributo de dois amigos, que anotei estas duas palavras, que me parece terem um significado muito parecido. Borquilha é um vilão, uma pessoa simples, sem grandes conhecimentos, de modos atabalhoados. Bazarouco será um homem pouco inteligente, com jeitos desengonçados e ar atarantado, pouco despachado.
Agradeço outras achegas para tentar definir estas duas palavras do vocabulário madeirense.

quinta-feira, maio 07, 2009

beberagem de um dia não engorda porcos

- "Queres um gelado?"
Balbuciei um não, pouco convicto, enquanto retirava da bolsa uma maçã.
- "Beberagem de um dia não engorda porcos." Tentaram, com este ditado que eu não conhecia, convencer-me de que não havia mal nenhum em comer o dito gelado, cheio de açúcar e de calorias. Afinal, seria apenas um gelado, uma vez sem repetição.
Não fiquei convencida a comer o gelado, mas fiquei convencida de que valia a pena registar aqui este ditado popular.

quarta-feira, maio 06, 2009

arengar

-"Ela arengou, arengou, mas eu fiquei sem perceber nada."
Perante o desabafo, sorrio. Entretenho-me com estas expressões como se fossem pequenos tesouros de brincar. E dou por mim a pensar baixinho, só para mim: "Se fosse só ela, era bem bom, lá isso era. O que as pessoas mais fazem é arengar, arengar e não dizer nada."
Há pessoas tão peritas nisso, que até parece que fizeram um curso especial de arenganço. Parvos são os que ficam do outro lado, a dar a volta à cabeça para tentar compreender o incompreensível.

terça-feira, maio 05, 2009

atrás de Maio vem São João

- "Atrás de Maio vem São João." Foi com esta expressão que uma amiga, sentindo-me triste, me disse para ter calma, porque tudo passa. Pode demorar mais, pode demorar menos, mas acaba passando.
Tal como o mês de Junho, mês de São João na linguagem popular, sucede ao mês de Maio, a vida segue o seu curso, independentemente das nossas dores.
Agradeci-lhe o apoio e a expressão, que não conhecia. Atrás de Maio vem São João. Atrás de um dia vem outro. Atrás de uma tristeza vem quem sabe uma alegria. Quem sabe?

sábado, maio 02, 2009

avistar um enterro sentado

Quando os enterros saíam de casa das pessoas, percorrendo inúmeras veredas até à igreja, era costume as pessoas que por algum motivo não participavam na cerimónia irem "avistar o enterro". Lembro-me de irmos para o Cabouco avistar o enterro do senhor que tinha morrido na Ribeira e que tanta impressão me fez por não levar sapatos. Ficámos em silêncio junto ao bardo que ficava abaixo da casa da Prima Ali e a minha avó avisou para ninguém se sentar.
Durante todo o tempo que o enterro demorou a percorrer a vereda estreita, ficámos de pé junto ao bardo coberto de ervas e de pequenas flores. Eu fiquei alerta o tempo todo, com medo e me distrair e me sentar sem querer nalguma pequena reentrância do bardo.
A superstição diz que quem avistar um enterro sentado pode morrer.

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