sábado, fevereiro 20, 2010

uma pena no peito

Tenh'uma pena no peito
Não é pena de galinha
Dá-lhe o vento não avoa
Não há pena quem'a minha

Tenh'uma pena no peito
Não é pena de pavão
Dá-lhe o vento não avoa
Dá-lhe a chuva não cai ao chão

Quadras de um fado, recolhidas no Sítio da Ribeira dos Pretetes, Caniço, em 1989

sábado, fevereiro 06, 2010

o levadeiro

- "E quem é que vai ser o levadeiro?"
Os homens apinhavam-se à volta do porco, acabado de trazer o chiqueiro à força. O marchante disse que deixassem o animal descansar um bocado, e essa breve pausa na função da morte do porco, foi logo aproveitada para uma primeira rodada de vinho seco.
- "E quem é que vai ser o levadeiro?"
Um deles adiantou-se, pegou no garrafão e no copo e começou a distribuição. Estava eleito o levadeiro do dia, aquele a quem caberia de vez em quando medir rodadas de vinho, e servi-las a todos os homens convidados para ajudarem na morte do porco num dia já tão afastado da tradição das vésperas da Festa.
Este levadeiro tem a responsabilidade de assegurar que nenhum dos presentes fica de goelas secas muito tempo, é um cargo importante e imprescindível uma "morte do porco", tal como antigamente eram imprescindíveis os outros levadeiros, os que trabalhavam dia e noite nas levadas de verdade, zelando para que a distribuição se fazia de forma correcta e às horas marcadas.
Como existiam horas de rega nocturnas, tinha de ser, o levadeiro permanecia junto ao entalhador da levada e à hora exacta tapava a água para o sítio correcto. Contam-me que tocava numa corneta, para alertar os regantes de que estava na hora de irem buscar a sua parte da água.
O levadeiro tinha a responsabilidade de cumprir à risca a divisão da água, numa altura em que esta era essencial para assegurar o sucesso das colheitas e, logo, a subsistência de praticamente todas as famílias nas zonas rurais.
O outro levadeiro, o cargo que hoje fiquei a conhecer por estar numa "morte do porco", tem tambem um caro de responsabilidade. Se não houvesse vinho seco, distribuído de vez em quando, num tempo quase cronometrado, não muito perto e não muito distante da vez anterior, pelo "levadeiro", teriam conseguido reunir oito homens para ajudar na morte do porco?

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