quarta-feira, janeiro 11, 2012
o balanço
Sinto ainda a alegria que senti no dia em que o meu avôlito nos fez um balanço no tronco da ameixeira de damasco que ficava por cima do terreiro, entre a porta da cozinha e o poço de lavar. Parecia mentira! Em alguns minutos apenas o meu avôlito fez-nos um balanço com uma corda muito grossa que foi buscar ao palheirinho.
Lembro-me de o ver a escolher bem o ramo adequado, não só o mais forte, mas também aquele que ficava no melhor lugar e tinha a altura ideal. Depois vi-o a tomar balanço, com o corpo inclinado para trás e em seguida para a frente e de repente a corda estava a voar sobre o ramo e no instante seguinte já estava cá em baixo. O meu avôlito amarrou-a bem, experimentou o peso, e disse que podíamos brincar no balanço.
O balanço ficava a meio do terreiro dos meus avôlitos. Uma de nós sentava-se, outra ia para trás e empurrava. Com mais força, mais, mais, até quase voarmos e tocarmos com uma ponta do pé num ramo da ameixeira branca. O cabelo voava. Sentíamos um frio na barriga. Era tão bom. - "Vamos se embalançar?" Não precisávamos de mais nada.
O balanço não se manteve ali por muito tempo, pelo menos na minha memória não foi muito longo o tempo desse balanço. Talvez estivesse a forçar demasiado o tronco da ameixeira, certo é que atrapalhava quem queria passar no terreiro. Durou pouco tempo esse balanço, mas foi o único que me ficou gravado na memória com esta nitidez.
Todos os nossos balanços foram semelhantes àquele, feitos com uma corda grossa atada ao tronco de uma árvore. Os balanços da minha mãe foram bem diferentes, pois nesse tempo eram as próprias crianças que os faziam, entrançando cascas de vime verde. Os balanços eram ainda mais preciosos para as crianças dessa geração porque só existiam em Junho, o mês dos balanços.
Em Fevereiro e Março era a altura de podar os vimes. Estes eram amarrados aos molhos e colocados de pé em poças de água junto às ribeiras, para rebentarem. Aos poucos, durante cerca de três meses, os vimes iam criando raízes e ficando com folhas. Depois de retirados da água, a base dos molhos era colocada sobre uma pedra e malhada com o malho. Era por aí, pela parte da casca que tinha ficado meio desfeito, que se começava a descascar o vime branco.
As crianças rodeavam os adultos eufóricas e iam recolhendo as cascas para os balanços. Basicamente faziam uma trança, com vários molhinhos de vimes, tendo o cuidado de ir acrescentando mais vime ao longo da trança, gradualmente para ficar bem seguro. Depois elas próprias procuravam um ramo e atiravam a trança ligando cuidadosamente as duas pontas, com outras cascas de vime.
Se eu só me lembro do balanço do terreiro dos meus avôlitos, já a memória admirável da minha mãe conseguiu guardar todos os balanços da sua infância. Um balanço que a Ti Filomena deixou fazer num ramo de nespereira que se estendia por cima da vereda que ia para as Eiras; um balanço no ramo do carvalheiro que ficava em cima do bardo e se estendia sobre o caminho ao pé da casa da Tia Carolina do Pinheirinho; um balanço na pereira que existia em casa do Ti Noé; um balanço na nespereira que havia à frente das casas da Turquia; um balanço em casa do Ti José Mirando, que acabou por ser mudado para outro local, abaixo do ribeiro.
- "Traz-me uma cartinha!" Era assim que as crianças pediam a quem se embalançava que tentasse agarrar, com as mãos ou com os pés, pequenas folhas de árvore, para provar o quão alto tinham conseguido ir.
Junho era o mês dos balanços, o mês em que se descascavam os vimes verdes. Quando os balanços começavam a secar, ainda tentavam salvá-los, metendo-os em água para amolecerem, mas mais tarde ou mais cedo acabavam-se os balanços. Até ao ano seguinte, na época dos vimes.
Ouço estas memórias e sinto beleza em tudo. Nos objectos, nos gestos, nas emoções e nas palavras. Fico contente por sempre ter usado a palavra balanço. A palavra baloiço foi uma novidade aprendida muito mais tarde e nunca me soou tão bem.
Lembro-me de o ver a escolher bem o ramo adequado, não só o mais forte, mas também aquele que ficava no melhor lugar e tinha a altura ideal. Depois vi-o a tomar balanço, com o corpo inclinado para trás e em seguida para a frente e de repente a corda estava a voar sobre o ramo e no instante seguinte já estava cá em baixo. O meu avôlito amarrou-a bem, experimentou o peso, e disse que podíamos brincar no balanço.
O balanço ficava a meio do terreiro dos meus avôlitos. Uma de nós sentava-se, outra ia para trás e empurrava. Com mais força, mais, mais, até quase voarmos e tocarmos com uma ponta do pé num ramo da ameixeira branca. O cabelo voava. Sentíamos um frio na barriga. Era tão bom. - "Vamos se embalançar?" Não precisávamos de mais nada.
O balanço não se manteve ali por muito tempo, pelo menos na minha memória não foi muito longo o tempo desse balanço. Talvez estivesse a forçar demasiado o tronco da ameixeira, certo é que atrapalhava quem queria passar no terreiro. Durou pouco tempo esse balanço, mas foi o único que me ficou gravado na memória com esta nitidez.
Todos os nossos balanços foram semelhantes àquele, feitos com uma corda grossa atada ao tronco de uma árvore. Os balanços da minha mãe foram bem diferentes, pois nesse tempo eram as próprias crianças que os faziam, entrançando cascas de vime verde. Os balanços eram ainda mais preciosos para as crianças dessa geração porque só existiam em Junho, o mês dos balanços.
Em Fevereiro e Março era a altura de podar os vimes. Estes eram amarrados aos molhos e colocados de pé em poças de água junto às ribeiras, para rebentarem. Aos poucos, durante cerca de três meses, os vimes iam criando raízes e ficando com folhas. Depois de retirados da água, a base dos molhos era colocada sobre uma pedra e malhada com o malho. Era por aí, pela parte da casca que tinha ficado meio desfeito, que se começava a descascar o vime branco.
As crianças rodeavam os adultos eufóricas e iam recolhendo as cascas para os balanços. Basicamente faziam uma trança, com vários molhinhos de vimes, tendo o cuidado de ir acrescentando mais vime ao longo da trança, gradualmente para ficar bem seguro. Depois elas próprias procuravam um ramo e atiravam a trança ligando cuidadosamente as duas pontas, com outras cascas de vime.
Se eu só me lembro do balanço do terreiro dos meus avôlitos, já a memória admirável da minha mãe conseguiu guardar todos os balanços da sua infância. Um balanço que a Ti Filomena deixou fazer num ramo de nespereira que se estendia por cima da vereda que ia para as Eiras; um balanço no ramo do carvalheiro que ficava em cima do bardo e se estendia sobre o caminho ao pé da casa da Tia Carolina do Pinheirinho; um balanço na pereira que existia em casa do Ti Noé; um balanço na nespereira que havia à frente das casas da Turquia; um balanço em casa do Ti José Mirando, que acabou por ser mudado para outro local, abaixo do ribeiro.
- "Traz-me uma cartinha!" Era assim que as crianças pediam a quem se embalançava que tentasse agarrar, com as mãos ou com os pés, pequenas folhas de árvore, para provar o quão alto tinham conseguido ir.
Junho era o mês dos balanços, o mês em que se descascavam os vimes verdes. Quando os balanços começavam a secar, ainda tentavam salvá-los, metendo-os em água para amolecerem, mas mais tarde ou mais cedo acabavam-se os balanços. Até ao ano seguinte, na época dos vimes.
Ouço estas memórias e sinto beleza em tudo. Nos objectos, nos gestos, nas emoções e nas palavras. Fico contente por sempre ter usado a palavra balanço. A palavra baloiço foi uma novidade aprendida muito mais tarde e nunca me soou tão bem.