domingo, outubro 02, 2011

de arrancar castanheiros

Para além da massa cortada grada, a sopa tinha de tudo e mais alguma coisa: nabo, semilha, batata, feijão, pimpinela, abóbora amarela, cebola, cenoura, vajinha, maçarocas, couve fechada, folhas de couve, inhame, e ainda abundantes bocados de carne de vaca com um pouco de gordura e talvez mais alguma coisa de que não me lembro.
O meu pai deixou a enxada a meio do poio, no local exacto onde cavara as últimas semilhas e onde deveria recomeçar a tarefa, sacudiu a terra das botas d'água, lavou as mãos no poço de lavar, entrou na cozinha, sentou-se à frente do prato fumegante, esfregou as mãos de contente e exclamou: - "Esta é de arrancar castanheiros."
Duas colheradas depois, voltou a gabar a sopa e a usar o dito dos castanheiros. Contive-me. Deixei passar mais um bocadinho, mas algumas colheradas depois lá estavam as minhas inevitáveis perguntas sobre a expressão "de arrancar castanheiros", às quais respondeu com bom humor. Graças a um prato de sopa à moda da minha mãe, fiquei a saber que os castanheiros são as árvores mais difíceis de arrancar. Por isso se diz dos pratos mais substanciais, daqueles que dão muita energia, que são "de arrancar castanheiros".

Comments:
Ehehehe, gostei de saber! Conheço uma outra expressão, que consiste em dizer-se que algo é "de arrasa pessegueiro".

- Aquele indivíduo disse umas coisas / fez uma crítica / deu uma descompostura de arrasa pessegueiro.

... Mas não sei de onde veio isto.

:-)))


PS - Gosto, sobretudo, da riqueza etimológica que ganho com a tua escrita: pimpinela (deve ser o "chuchu" daqui destas bandas), cortada grada (grosseiramente?) e poio (poial nunca se diz por aí?).
 
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