terça-feira, outubro 12, 2010

destrocar dinheiro na bandejinha da missa

Quando eu era criança e na minha paróquia a Igreja ainda era uma casa com dois quartos grandes no rés-do-chão, um para as mulheres e outro para os homens, havia uma mulher que tinha o estranho hábito de destrocar dinheiro na bandejinha das ofertas.
Durante o ofertório, alguém ia circulando entre os presentes com uma bandejinha de vimes e eu gostava de ouvir o tilintar das moedas por entre o côro das orações, quando alguém as atirava com mais força e de uma altura maior.
Quando a bandejinha chegava ao pé da tal senhora, em vez de atirar uma moeda de baixo valor, ela atirava uma maior, ou então uma nota de vinte escudos, daquelas que tinham a imagem do santo António de Lisboa, e começava a remexer em todo o dinheiro da bandeja retirando troco, de forma a que a sua oferenda fosse exactamente o valor que ela decidira.
Aquela operação demorava uma eternidade e ninguém se conseguia aperceber de quanto ela retirava realmente da bandejinha de vimes onde todas as outras pessoas tinham colocado o seu humilde contributo. De maneira que as pessoas suspeitavam - ou talvez não, talvez dissessem aquilo devido ao curioso da situação apenas - que ela talvez tirasse mais do que colocava. Quem sabe?
O meu olhar de criança fixava-se nas mãos da mulher escolhendo troco e eu não percebia. Se a bandejinha era para colocar dinheiro porque é que ela o retirava? Já no longo caminho de regresso a casa, a minha mãe explicava-nos a tal operação do destrocar.
Lembro-me sempre disto naquelas situações - que infelizmente não são poucas - em que por trocas e baldrocas a pessoa que supostamente está a dar, acaba ficando com mais do que aquilo que deu. Vejo alguém convocar toda a comunicação social para a entrega de um donativo e lá está, na minha memória, bem viva, a imagem da mulher que destrocava o dinheiro na bandejinha da igreja.

Comments:
Querida conterrânea.
Há já muito que não passava por este espaço. Estive a passar uma vista de olhos e, deparei-me com o texto sibre o Gófio.
No meu tempo, conhecia por Gofe, uma comida confecionada com farinha de centeio torrada, misturada com água a ferver e que ficava parecia uma massa de sapateiro. Era acompanhada com carne de porco gorda, Também havia outra que se chamava de "frangolho", era confecionada com farelos de trigo, ficavam umas papas mais moles. Não sei se ainda hoje há quem faça essa culinária. Também não me poderei esquecer do célebre inhame cozido. Era normalmente pela Páscoa que se comia. Belos tempos, tud que se comia não fazia mal. Até as "semilhas" assadas entre duas pedras e, nas cinzas. Também a batata doce, " batatas" , muito saborosas quer assadas quer cozidas. E o Feijão de bola cozido com casca, maçarocas e, outros legumes? Belos tempos. Pese embora esteja ausente dessa pérola há muitos anos ( 50) ainda não esqueci os sabores.
Tenha uma boa semana.
Um abraço deste conterrâneo que tenta nunca esquecer a terra que o viu nascer.
 
Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!