segunda-feira, agosto 16, 2010

uma gavela de bicharada

No mesmo sítio, um dos vários que ficou todo abrasado, um homem disse com o mesmo desespero na voz e o mesmo choro na alma: "Perdi uma gavela de bicharada!"
Logo reparo em mais esta palavra da infância, a palavra gavela. A minha contava que quando ia ganhar dias na ceifa, nas chamuscas, fazia gavelas de trigo que mais tarde era debulhado na eira. Uma gavela é portanto uma mão-cheia, um punhado de espigas cortadas, amarrado com uma das palhas. Mas como acontece com muitas outras palavras, o sentido alarga-se a outras situações. Uma gavela passou a significar uma determinada quantidade, que não sei precisar e dependerá de quem utiliza a expressão. Uma gavela de bicharada serão quantos animais? Coitado o homem! Mesmo que fosse só um.
Maldito Lume!

Comments:
Lília
Quando posso, passo por aqui para me deliciar com a sua prosa sempre amena,com sabor de "antigamente".
Colecciono expressões populares portuguesas e a sua ajuda é preciosa.
Hoje, poucos dão valor ao riquíssimo léxico dos nossos Pais e Avós.
Sinto que mão estranha e anónima, activa e deliberadamente encaminha a actual Juventude portuguesa para uma linguagem paupérrima, irregular e mascavada com um fim muito concreto: a ignorância, a alienação, o desinteresse e o desamor a tudo o que seja genuinamente português; preparam-se escravos...
Por continuar a remar contra a maré, dou-lhe os meus sinceros parabéns.
(PS - As malditas gralhas atacam todos; desta vez foi a "quandide"!)
 
Que palavra bonita! :-) Que bonito é quando há expressões que mesmo sem uma medida exacta todos entendem. Uma mão-cheia também não tem nada de exacto, porque as mãos não têm todas o mesmo tamanho! :-) Mas uma mão é uma boa "medida"... Porque é a mão que trabalha, que agarra, que acaricia e que aperta as outras em sinal de respeito e amizade. Gostei imenso da gavela.

E do comentário anterior, com qual me identifico tanto: "Sinto que mão estranha e anónima, activa e deliberadamente encaminha a actual Juventude portuguesa para uma linguagem paupérrima". Meu Deus, se isto é verdade! (e tantas são as vezes em que disso me compadeço)... Se dermos um livro de literatura clássica portuguesa a um miúdo, ele desiste à primeira linha por não entender o significado das palavras. É que nem sequer vai buscar um dicionário. E isto porquê? Porque todos alinhámos num facilitismo brutal em relação à lingua, quando essa é de uma arte imensa que nos retrata. Um retrato cada vez pior!

Um beijinho.
 
Prezada,
Gostei lendo o seu blogue desta palavra "gavela" (ou "gabela", tamén correta, como pronunciamos na Galiza), que me retrotraiu a quando era (mais) novo.
Saudaçoes desde o Norte!.
Xosé
 
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