terça-feira, março 02, 2010

a retrete do cose-botas

Era uma vez um homem que cosia botas, algures nas Fontes. Não era sapateiro, não senhor, apenas sabia coser botas e tinha bastantes clientes, então não! O calçado era algo precioso e muito bem aproveitado: descosia-se, mandava-se coser e não tinha mais conversa. Chamavam-lhe o Cose-Botas, o nome verdadeiro não interessa para nada. Ora, o Cose-Botas ficou na história de que são feitos os ditos da minha terra graças à sua retrete ou casinha, que era o que se chamava às casas de banho de antigamente.
A retrete do Cose-Botas era ao estilo da que existia em casa dos meus avós: uma casinhota de madeira do mais simples, com duas tábuas no chão, onde as pessoas se equilibravam, meio levantadas, meio agachadas, para fazerem as suas necessidades. Estas mantinham-se ali em baixo, até serem lavadas de vez em quando. Não sei se devido ao muito trabalho que dava cozer as botas do sítio, se apenas por malandrice ou descuido, esse era um hábito que o homem parecia não ter. A casinha ficava ao pé da vereda estreita e chamava a atenção de quem passava o facto de estar tão cheia, a chegar acima, tão cheia que metia dó, para não dizer outra coisa.
As pequenas de cá de cima repararam naquilo quando foram levar botas a cozer e é claro que transformaram o caso num motivo de conversa e daí a nascer um novo ditado, ainda hoje em uso, foi um pequeno passo. Sempre que viam alguma coisa demasiado cheia, diziam: - "Olha, parece a retrete do Cose-Botas." E levavam a expressão a um tal extremo que até de um prato de comida demasiado cheio diziam que parecia a retrete do Cose-Botas, imagine-se!
Este homem que não cheguei a conhecer coseu botas algures nas Fontes mais ou menos há uns sessenta anos e não sei mais nada dele. Sei apenas que qualquer coisa que se apresente demasiado cheia parece a retrete do Cose-Botas. A expressão continua a ser usada na zona do Pomar, também conhecida por Achada do Capitão.

Comments:
É tão interessante que haja expressões tão vincadas mas com menos de cem anos, ao contrário de outras de tempos imemoriais! :-)
 
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