sábado, junho 13, 2009

Picar a imagem de Santo António

" - Pobrezinho, ele está todo picado!" A Dona Adelaide olha com ternura para a imagem de Santo António e volta a dizer "coitado, tem os pezinhos todos picados com alfinetes." Nunca se socorreu dessa artimanha para conseguir arranjar marido, aquele ar condoído é sincero, puro.
Mas muitas outras raparigas solteiras, sem olhar a meios para conseguir os fins, usaram o antigo método das picadas com alfinetes para coagir o Santo a arranjar-lhes marido, afinal não há outro santo casamenteiro. Dona Adelaide encolhe os ombros e ouve-se-lhe uma voz doce mas triste: "dizem que sim, parece que resulta". Sorri e continua calmamente a enfeitar com flores brancas e perfumadas o andor do santo que não lhe arranjou marido. Fico a olhá-la em silêncio e apetece-me dizer-lhe que fez bem, afinal qual é o sentido de obter seja o que for recorrendo à tortura? Porém não digo nada nem pergunto nada, não tenho coragem de tentar confirmar as minhas suspeitas. Limito-me a agradecer as explicações e vou embora. Há coisas que parecem difíceis de compreender e talvez tenham uma explicação tão simples como esta história do alfinete. Talvez. Tal como a Dona Adelaide, não sou capaz de recorrer à tortura.

Comments:
Santo António alfinetado
Já não responde ao pedido
Fazem dele um «pau-mandado»
Que ficou um «pau-sentido»...
 
Mestre Aquilino Ribeiro apresenta na sua Obra "O galante Século XVIII", textos do Cavaleiro de Oliveira onde se referem variados maus tratos infligidos às imagens de Santo António, nomeadamente pendurá-lo por um baraço e mergulhá-lo na água dum poço.
Também Rebelo da Silva, na obra "A mocidade de D. João V" refere às mesmas práticas...
Por mim tenho como certo: "Quando Deus não quer, a santos não rogues"
 
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