segunda-feira, agosto 11, 2008
A Festa da Poeira
Antigamente, tínhamos sempre um vestido novo e uns sapatos novos para a Festa de Nossa Senhora da Paz, padroeira da paróquia, seguida pela Festa do Senhor, na segunda-feira. Três dias seguidos de arraial, o único em todo o ano. Por isso demorávamos a decidir o modelo do vestido, mandado fazer na costureira normalmente com tecidos enviados de fora, pelos embarcados. No tempo dos vestidos e dos sapatos novos, o arraial fazia-se no meio dos pinheiros, atrás da casa que servia de igreja. O coreto da banda, o bazar, a barraca da carne, a barraca da bebida, o tabuleiro dos colares e suspeiros, a arca dos gelados, e tudo o mais que não pode faltar num arraial, distribuíam-se aqui e ali por entre os pinheiros. O chão era de terra e durante os três dias de arraial os vestidos novos e os sapatos novos adquiriam outra cor, variante da cor original coberta pela muita poeira que se ia levantando. Por brincadeira, começámos a chamar ao arraial "A Festa da Poeira".
Quase trinta anos depois do tempo em que eu e as minhas irmãs adolescentes éramos quase as únicas a bailar no meio da poeira ao som das músicas da banda, com os nossos vestidos novos e os nossos sapatos novos, a Festa já não tem poeira. A Igreja é nova e o adro e o largo e todos os lugares onde se faz o arraial e por onde se espalham o coreto, o bazar, as barracas e agora um palco para um conjunto, são em cimento.
No entanto, porque os nomes ficam e é a memória que vai construindo todas as histórias, o meu tio do Brasil, que gosta de vir de propósito na altura do arraial, perguntou-me se eu ia à "Festa da Poeira." Eu disse que sim e fui, embora chegando mais tarde devido ao trabalho. Não tem poeira, e eu não tive nem vestido novo nem sapatos novos. Mas aquela festa continua a ter o sabor do que nao muda, mesmo que tudo à volta pareça desabar.
Quase trinta anos depois do tempo em que eu e as minhas irmãs adolescentes éramos quase as únicas a bailar no meio da poeira ao som das músicas da banda, com os nossos vestidos novos e os nossos sapatos novos, a Festa já não tem poeira. A Igreja é nova e o adro e o largo e todos os lugares onde se faz o arraial e por onde se espalham o coreto, o bazar, as barracas e agora um palco para um conjunto, são em cimento.
No entanto, porque os nomes ficam e é a memória que vai construindo todas as histórias, o meu tio do Brasil, que gosta de vir de propósito na altura do arraial, perguntou-me se eu ia à "Festa da Poeira." Eu disse que sim e fui, embora chegando mais tarde devido ao trabalho. Não tem poeira, e eu não tive nem vestido novo nem sapatos novos. Mas aquela festa continua a ter o sabor do que nao muda, mesmo que tudo à volta pareça desabar.
Comments:
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Bonita incursão na «poeira dos tempos»!...
Ainda bem que a Madeira tem quem agite a poeira da monotonia: o Dr Jardim, com as suas diatribes e os seus excessos tão histriónicos!
Excelente cartaz, sem dúvidas!
Ainda bem que a Madeira tem quem agite a poeira da monotonia: o Dr Jardim, com as suas diatribes e os seus excessos tão histriónicos!
Excelente cartaz, sem dúvidas!
É verdade. O Dr. Jardim, excessivo, quase sempre, diz contudo muitas verdades. Que não lhe doa a língua!
Quanto à festa da poeira,minha culpa minha máxima culpa, só lá fui uma ou duas vezes. Gostei. Era tudo tão diferente da festa do Caniço. Mas muito genuína.Até o clima é diferente lá em cima.
Mas acho que uma das razões porque muito boa gente daqui, não vai lá, é um certo espinhinho que nos ficou da divisão(justa) em três paróquias.
Ainda recordo vagamente a grandiosidade das festas antes da separação!
As enormes romagens, as charolas ,essa do triguinho e o mar de gente que inundava a "vila". E
não era só nas festas, era também aos domingos.Assomávamos aí à casa do doutor e o adro lá em baixo era um mar de cabeças. Eram homens de fato escuro que entravam pela sacristia e só aí tinham acesso à igreja, ou então entravam pela frente mas ficavam atrás do tapa-vento sem verem nada para dentro, mas assim mandava a regra: afastados das mulheres!
Que tempos!
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Quanto à festa da poeira,minha culpa minha máxima culpa, só lá fui uma ou duas vezes. Gostei. Era tudo tão diferente da festa do Caniço. Mas muito genuína.Até o clima é diferente lá em cima.
Mas acho que uma das razões porque muito boa gente daqui, não vai lá, é um certo espinhinho que nos ficou da divisão(justa) em três paróquias.
Ainda recordo vagamente a grandiosidade das festas antes da separação!
As enormes romagens, as charolas ,essa do triguinho e o mar de gente que inundava a "vila". E
não era só nas festas, era também aos domingos.Assomávamos aí à casa do doutor e o adro lá em baixo era um mar de cabeças. Eram homens de fato escuro que entravam pela sacristia e só aí tinham acesso à igreja, ou então entravam pela frente mas ficavam atrás do tapa-vento sem verem nada para dentro, mas assim mandava a regra: afastados das mulheres!
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