sábado, abril 12, 2008

Já morreu Adelaidinha

Já morreu Adelaidinha
Já lá vai no seu caixão
A quem deixaria ela
O seu bonito cordão?

O seu bonito cordão
Deixou ela à sua tia
Para que ela lhe rezasse
Por alma uma Avé-Maria

Já morreu Adelaidinha
Já lá vai ela a enterrar
A quem deixaria ela
O estojo de bordar?

O estojo de bordar
Deixou ela à sua mãe
Para que ela lhe rezasse
Por sua alma também.

Já morreu Adelaidinha
Já lá vai ela p'ró céu
A quem deixaria ela
O seu bonitinho véu?

O seu bonitinho véu
Deixou à sua madrinha
Para que ela lhe rezasse
Mais uma Salve-Rainha.

Uma das cantigas da infância e da juventude. Uma cantiga que me faz ter soidades do tempo em que bastava uma cantiga para alegrar a alma, do tempo em que tudo fazia sentido e nada era complicado. Por exemplo, os bens da Adelaidinha foram deixados por ela a quem quis e aceites em paz, suponho, coisa rara nos dias que correm. Hoje em dia não há heranças divididas sem brigas. O estojo de bordar, o cordão, o véu: até os objectos mais simples tinham valor, e isso era tão bonito.

Comments:
Bonita poesia. Popular quanto baste, e erudita também...

Sabe a origem do termo «bokassolândia?»

Se se der à maçada poderá ver no meu blog.

Bom fim de semana.
 
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