domingo, março 02, 2008

Já tenho as marcas, falta o travesseiro

"- Já tenho as marcas. Só falta o travesseiro." Usei a antiga expressão e, inevitavelmente, desfiz-me em riso. Sempre achei muito engraçada esta metáfora feita de travesseiros e de marcas, caídos quase totalmente em desuso. Hoje em dia não tenho travesseiro, apenas almofadas, tal como penso que acontece com a maioria das pessoas. Mas a expressão continua a ter o significado primordial de algo pequeno que já temos, faltando ainda a parte principal, a parte verdadeiramente importante e mais difícil de conseguir. Apenas essa parte, aqui é que está a piada. Usei a velha metáfora e desfiz-me em riso porque, ainda por cima, as minhas marcas eram um sofá de que gosto muito e o travesseiro uma casa de verdade com o jardim de verdade com que sempre sonhei. Falávamos na possibilidade de comprar um sofá maior para a sala, bem que era bom. Mas nesse caso seria necesário desfazer-me do actual sofá, que é mais uma cadeira grande, de que tanto gosto, e eu exclamei: "- Mas este sofá é para a minha casa com um jardim e uma árvore grande ao lado, para o escritório ou talvez para uma salinha pequena..." Pois é. Já tenho as marcas, só falta o travesseiro. Não sei como terá surgido a expressão, acho que a minha mãe já me contou a história, num dia em que de certeza estava de pachorra e não se importou com as minhas perguntas sobre tudo e mais alguma coisa. Imagino uma qualquer rapariga do sítio falando sobre o dote, que obrigatoriamente icluia jogos de lençois de linho, cuja pano fora comprado aos adelos e corado num corador de ervas limpinhas e depois mandado fazer à costureira e bordado a preceito pela própria rapariga ou por uma bordadeira com fama de fazer o trabalho bem feito. Imagino e sorrio e tenho saudades da palavra travesseiro e da palavra marcas, hoje em transformadas em botões, coitadas. Já tenho as marcas, só falta o travesseiro.

Comments:
Qur bela expressão, não a conhecia. Eu também tenho algumas marcas, mas falta-me o travesseiro. Tenho muitos projectos em stand-by. Provavelmente também deveria começar a adquirir outras marcas para outros travesseiros mesmo que os anteriores ainda não estejam acabados...
Adoro a sua sensibilidade, a forma como reflecte, de forma filosófica embora simples, com uma boa dose de nostalgia e agradeço pôr o seu dom ao nosso dispor: o dom de ensinar, de me fazer sorrir, relembrar memórias esquecidas, matar as saudades e não raras vezes me emocionar! Bem-haja!
 
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