sexta-feira, janeiro 25, 2008

A unha e a calçada

"Tenho ciumes armados
à porta da minha amada.
Rapaz, eu gosto de ti
com a unha da calçada".

Quando cantou esta quadra, a minha avolita, que Deus lhe dê o céu, fez questão de me explicar que esta é uma forma de dizer o quando não se gosta.
Não fui do tempo de andar descalça, a não ser por brincadeira. Mas quem foi desse tempo, como a minha avó, os meus pais, e os meus tios, percebe bem a metáfora e não precisa de explicações.
No Verão, tinham de correr o mais que podiam porque a calçada ardia debaixo dos pés, era impossível estar parado nela. No Inverno, era preciso tentar contornar o lameiro, as poças de água, as pedras caídas no caminho, as pinhas e os paus, era praticamente impossível evitar magoar-se. Fosse em que estação fosse, as topadas eram o pão nosso de cada dia. Unha e calçada não conseguem entender-se em situação nenhuma.
Está explicada a comparação: "Rapaz, eu gosto de ti, como a unha da calçada". Resposta nua e crua, mas clara e directa. Uma virtude de que hoje em dia muitas pessoas não se podem gabar. A covardia de nada dizer é mais confortável e as pessoas, cada vez mais, vivem apegadas à ilusão do conforto, fabricada seja à custa do que for.

Comments:
ai as topadas..as famosas topadas..aqueles dedos grandes dos pés inchados e ensanguentados e a explicação:foi uma topada!!que bom visitar o teu blog..aquece o coração..relembro palavras da minha infância e com as palavras surgem recordações , conversas e acontecimentos com elas relacionados.Bem hajas Lilia!
 
Cara Lília, é só para fazer uma ressalva a esta expressão que gosto muito de ouvir quando alguém faz referência a um ente querido que já não se encontra entre nós: que Deus lhe dê o céu.
 
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