sábado, janeiro 12, 2008
Decerto que vai apaixonar.
-" Decerto que vai apaixonar".
Estávamos a falar de um cão. O Rufa vive sozinho, amarrado por uma corrente, junto à casa do meu tio Catorze e da minha Tia Salomé, que Deus lhes dê o céu.
Um dia destes, soltou-se. Não cabendo em si de contente, veio às carreiras até a casa dos meus pais juntar-se ao irmão, Rafa. Saltou, correu, fez piruetas no ar, atirou-se às visitas à procura de mimos.... Foi uma autêntica festa, que só durou um dia, até ao meu pai ter resolvido o problema da corrente rebentada.
No momento em que foi amarrado junto à sua casota, no terreiro da casa abandonada onde não passa quase ninguém e que ele guarda com tanto esmero, dando sinal à menor aproximação, o Rufa calou-se. Meteu-se dentro de si e não emitiu um som.
Ali ficou, quieto. Simplesmente, deixou de ladrar e essa foi a forma que encontrou de entristecer.
- "Decerto que vai apaixonar" - exclamou a minha mãe, fazendo acordar em mim a memória desse verbo de antigamente. Apaixonar, usado assim, na forma de um verbo intransitivo e não reflexivo como se usa no caso da paixão amorosa, significava entristecer de morte.
A minha avó, sempre que via alguém muito triste, de uma tristeza sem tamanho e sem fundo, exclamava, numa pergunta que não exigia resposta: " Será que ela/ele vai apaixonar?"
E se estivesse de pachorra, contava casos de pessoas que tinham apaixonado e acabaram por morrer. "- Apaixonou, criou uma postema e morreu." Eu sempre acreditei nos saberes da minha avó. Desde essa altura, sei que é possível morrer de tristeza.
Estávamos a falar de um cão. O Rufa vive sozinho, amarrado por uma corrente, junto à casa do meu tio Catorze e da minha Tia Salomé, que Deus lhes dê o céu.
Um dia destes, soltou-se. Não cabendo em si de contente, veio às carreiras até a casa dos meus pais juntar-se ao irmão, Rafa. Saltou, correu, fez piruetas no ar, atirou-se às visitas à procura de mimos.... Foi uma autêntica festa, que só durou um dia, até ao meu pai ter resolvido o problema da corrente rebentada.
No momento em que foi amarrado junto à sua casota, no terreiro da casa abandonada onde não passa quase ninguém e que ele guarda com tanto esmero, dando sinal à menor aproximação, o Rufa calou-se. Meteu-se dentro de si e não emitiu um som.
Ali ficou, quieto. Simplesmente, deixou de ladrar e essa foi a forma que encontrou de entristecer.
- "Decerto que vai apaixonar" - exclamou a minha mãe, fazendo acordar em mim a memória desse verbo de antigamente. Apaixonar, usado assim, na forma de um verbo intransitivo e não reflexivo como se usa no caso da paixão amorosa, significava entristecer de morte.
A minha avó, sempre que via alguém muito triste, de uma tristeza sem tamanho e sem fundo, exclamava, numa pergunta que não exigia resposta: " Será que ela/ele vai apaixonar?"
E se estivesse de pachorra, contava casos de pessoas que tinham apaixonado e acabaram por morrer. "- Apaixonou, criou uma postema e morreu." Eu sempre acreditei nos saberes da minha avó. Desde essa altura, sei que é possível morrer de tristeza.
Comments:
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Amiga Lidia
Simplesmente fabuloso!O seu blog é uma autentica enciclopédia!A sua terminologia "madeirensis" é digna de ser publicada em livro. Não sei se existe algum livro que se dedique a pesquisar termos e frases populares da região. Sei que nos Açores, estão a copilar termos do Arquipélago. Porque não pensar no assunto? Agora que estamos a comemorar os 500 Anos da Cidade do Funchal! Ou no Caniço, a autarquia não estaria sensibilizada para estes projectos?
Felicidades para o seu blog,
loo rock
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Simplesmente fabuloso!O seu blog é uma autentica enciclopédia!A sua terminologia "madeirensis" é digna de ser publicada em livro. Não sei se existe algum livro que se dedique a pesquisar termos e frases populares da região. Sei que nos Açores, estão a copilar termos do Arquipélago. Porque não pensar no assunto? Agora que estamos a comemorar os 500 Anos da Cidade do Funchal! Ou no Caniço, a autarquia não estaria sensibilizada para estes projectos?
Felicidades para o seu blog,
loo rock
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