quinta-feira, setembro 27, 2007

Girassóis

Eram flores estranhas. E sendo assim, estranhas, geravam em mim um sentimento contraditório. Fascinavam-me, sem dúvida. Mas, há sempre um mas, também me assustavam um pouco. Afinal, era impensável enfeitar com flores daquele tamanho as pequenas jarras da mesa do "quarto-de-fora".
As flores maiores do mundo, pelo menos do meu mundo, pareciam não encaixar bem em lado nenhum. Eu compreendia. Compreendia muito bem esses girassóis que não sei a que propósito, um belo dia surgiram como grande novidade, plantados no poio à frente do jardim, do verdadeiro e primeiro jardim, o jardim de sempre.
Foi um Verão diferente, aquele Verão de girassóis. Poucas novidades aconteciam no nosso pequeno universo, não acontecia quase nada de verdadeiramente diferente. Por isso aquela novidade dos girassóis foi vivida e sentida de uma forma única.
Tivemos girassóis durante mais alguns verões, não sei precisar quantos, mas na minha memória houve mais verões com esses sóis amarelos polvilhando o poio à frente do jardim que ficava à frente do terreiro que ficava à frente da casa.
Misteriosamente, tal como apareceram, um dia os girassóis desapareceram do poio e das nossas vidas e nunca mais voltaram. De vez em quando lembro-me. Tenho saudades de ver girassóis e apetece-me não ver nenhum, para que aqueles sejam sempre os únicos girassóis do mundo (nosso).
Um dia destes, num daqueles momentos em que me ponho silenciosamente a esgravatar memórias, folheando cadernos amarelados com anotações avulsas, encontrei algo sobre girassóis. Numa lista de superstições que, com o tempo, com certeza abordarei neste blog, encontrei esta: "Não se deve ter girassóis, porque atraem as feiticeiras". Está assim explicada a raridade dos girassóis nos jardins e a consequente estranheza com que acolhemos aquelas flores, por nunca as termos antes visto. Quanto às feiticeiras, não me apercebi de que tivessem aparecido, atraídas pelos girassóis. Mas quem sou eu para pôr em causa a antiga sabedoria popular.

Comments:
Andava perdido e vim aqui dar. Clique após clique, cá vim ter a este jardim de girassóis ausentes.
Gostei do que li e do que vi.
Voltarei... com um girassol.
 
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