quinta-feira, fevereiro 15, 2007
Um cachorrinho a ganir
"Vou mandar buscar lá fora
um cachorrinho a ganir
C'uma fitinha no rabo
P'ra fazer agente rir."
Vi esta quadra, que hoje faz parte da minha colecção de recolhas, tornar-se real. Foi quando o meu pai regressou do seu primeiro período de emigração, na Austrália.
Foi nessa altura que tivemos os nossos primeiros brinquedos de pilhas. Brinquedos que durante toda a infância nunca sonháramos sequer que existiam.
À minha irmã mais nova, o meu pai trouxe uma boneca com cabelos de verdade, louros e aos caracóis, e com um bebé nos braços.
Dava-se corda à boneca e ela começava a tocar uma música de embalar, ao mesmo tempo que movimentava o tronco lentamente, embalando o bebé, fechava os olhos de longas pestanas e abri-a-os para ver se ele já estava a dormir.
Eu e a minha irmã do meio é que tivemos os "cachorrinhos a ganir". O da minha irmã era um cãozinho lindo, em tom de beije, com a cauda e as orelhas castanhas. Carregava-se no botão da caixa que guardava as pilhas e que estava ligada ao cão por um fio, e ele começava a andar. Depois fazia uma pausa, abanava a cauda e começava a ladrar. Não tinha a tal fitinha no rabo, como na cantiga, mas o resto era tudo igual.
O meu era diferente. Era um cão bebé, todo branco, dentro de um cestinho azul, com asa e tudo. Quando se dava corda, algures na parte de trás do cesto, o cachorrinho movia-se e espreitava para fora, com a cabecinha branca e o olhar meigo. Enquando espreitava, dava ganidos miudinhos.
Os três brinquedos estavam muito adequados à personalidade de casa uma, agora vejo isso mais do que em qualquer altura. O cachorrinho da minha irmã era esperto e decidido. Ladrava ao mundo, e continuava a avançar. O meu era frágil e tímido. Tentava sair do cesto, mas depois voltava a refugiar-se, assustado com o mundo lá fora.
Durante anos e anos, aqueles brinquedos serviram de atracção, talvez pudesse dizer do sítio inteiro e arredores. Foi-lhes dada corda de todas as vezes que alguém nos visitou.
Então, as crianças e os adultos, ficavam calados, como se estivessem perante um momento sagrado. Depois soltavam "ahs" de admiração e durante algum tempo as conversas giravam à volta daqueles brinquedos únicos.
um cachorrinho a ganir
C'uma fitinha no rabo
P'ra fazer agente rir."
Vi esta quadra, que hoje faz parte da minha colecção de recolhas, tornar-se real. Foi quando o meu pai regressou do seu primeiro período de emigração, na Austrália.
Foi nessa altura que tivemos os nossos primeiros brinquedos de pilhas. Brinquedos que durante toda a infância nunca sonháramos sequer que existiam.
À minha irmã mais nova, o meu pai trouxe uma boneca com cabelos de verdade, louros e aos caracóis, e com um bebé nos braços.
Dava-se corda à boneca e ela começava a tocar uma música de embalar, ao mesmo tempo que movimentava o tronco lentamente, embalando o bebé, fechava os olhos de longas pestanas e abri-a-os para ver se ele já estava a dormir.
Eu e a minha irmã do meio é que tivemos os "cachorrinhos a ganir". O da minha irmã era um cãozinho lindo, em tom de beije, com a cauda e as orelhas castanhas. Carregava-se no botão da caixa que guardava as pilhas e que estava ligada ao cão por um fio, e ele começava a andar. Depois fazia uma pausa, abanava a cauda e começava a ladrar. Não tinha a tal fitinha no rabo, como na cantiga, mas o resto era tudo igual.
O meu era diferente. Era um cão bebé, todo branco, dentro de um cestinho azul, com asa e tudo. Quando se dava corda, algures na parte de trás do cesto, o cachorrinho movia-se e espreitava para fora, com a cabecinha branca e o olhar meigo. Enquando espreitava, dava ganidos miudinhos.
Os três brinquedos estavam muito adequados à personalidade de casa uma, agora vejo isso mais do que em qualquer altura. O cachorrinho da minha irmã era esperto e decidido. Ladrava ao mundo, e continuava a avançar. O meu era frágil e tímido. Tentava sair do cesto, mas depois voltava a refugiar-se, assustado com o mundo lá fora.
Durante anos e anos, aqueles brinquedos serviram de atracção, talvez pudesse dizer do sítio inteiro e arredores. Foi-lhes dada corda de todas as vezes que alguém nos visitou.
Então, as crianças e os adultos, ficavam calados, como se estivessem perante um momento sagrado. Depois soltavam "ahs" de admiração e durante algum tempo as conversas giravam à volta daqueles brinquedos únicos.