sexta-feira, fevereiro 09, 2007

A boceta do meu avolito

O meu avolito não se separava da boceta por nada deste mundo. Quando esta ficava vazia, pedia-nos que fôssemos à mercearia comprar-lhe uns escudos de tabaco. "Cheirar tabaco" era o vício dele e de muitas outras pessoas da mesma geração.
A boceta era uma caixinha espectacular. Não tenho a certeza mas acho que era em marfim, com pequenos entalhes de metal, e abria à frente, na parte onde era mais ponteaguda, como por magia.
Então, o meu avô metia lá dentro os dedos polegar e indicador da mão direita e levava-os às narinas, inspirando aquele pó castanho, com um cheiro muito próprio, e que, depois, deixava acastanhados todos os lenços de mão que ele usava.
Por vezes, quando lhe restava pouco tabaco, pedia aos vizinhos e vizinhas e estes ofereciam a boceta, para que ele retirasse um pouco, e ele fazia o mesmo, oferecendo a sua às visitas e aos conhecidos. Tal como hoje as pessoas pedem ou oferecem um cigarro.
Ora, uma vez estavam cá os meus tios e primos do Brazil. A minha tia e a minha prima andavam a fazer as suas lides, quando ouvem o meu avô perguntar: "Onde é que está a minha boceta?"
FIcaram de boca aberta, incomodadas, e depois desataram a rir à gargalhada. Ninguém percebia porquê, até que eles explicaram: no Brasil, a palavra boceta não designa a caixinha do tabaco, mas sim o orgão sexual feminino.
Acho que daí em diante, o meu avô exagerava um pouco, só para se divertir, ao vê-las indignadas com aquela situação, originada por culturas diferentes. Por exemplo, ia uma qualquer velhinha das redondezas fazer uma visita e ele, vendo que ela por ali andavam, dizia qualquer coisa do género: "Ah comadre, trouxe a sua boceta? E posso meter o dedo e tirar uma pitada para mim?" Ela respondia, seriamente e sem maldade: "Então não pode compadre, ora'm'essa", enquanto retirava a boceta do bolsa e a estendia para que ele se servisse.

Comments:
lolololololololol so msm tu p te lembrares disso
 
Cara Lília Mata

O termo avolito é um termo familiar seu ou é um regionalismo da sua terra?
Cumpr.

João Soares
soaresdebarcelos@gmail.com
 
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