sábado, fevereiro 17, 2007
Ave-Marias
Lembro-me do tempo em que o momento das "Ave-Marias" era sagrado. As pessoas davam atenção ao toque no sino da Igreja e benziam-se. Se estivessem fora de casa, apressavam-se. Era uma espécie de toque de recolher, sobretudo para as mulheres.
O povo dizia: "Ave-Marias, mulheres em casa". O ditado não falava nos homens e é verdade que eles, ao contrário, podiam ficar na venda, cantando um xaramba ou apenas bebendo com os amigos.
Mas em casa do meu avolito, que era um pai muito rigoroso, ninguém tinha ordem para estar fora de casa depois do toque que anunciava o anoitecer. Com dezoito, dezanove ou vinte anos, por vezes já "andando para casar", os meus tios eram obrigados a cumprir a regra imposta ou não escapariam de uma malha.
A minha avolita preocupava-se à medida que se ia aproximando a hora das Ave-Marias! Preocupava-se e por vezes inventava uma pequena mentira para salvar algum dos filhos do previsível castigo. Chegou até a meter-se ao caminho para os chamar ou a alegar que os tinha mandado fazer algo muito importante.
Sobre as "Ave-Marias" também se dizia que anunciavam coisas certas. Se alguém estivesse a falar de um determinado assunto e desse do toque das "Ave-Marias", aquilo que estava a ser dito eram "coisas certas".
Penso que os sinos de todas as igrejas devem ainda assinalar as "Ave-Marias". Como é então possível que eu nunca mais as tenha ouvido? Talvez ande demasiado ocupada com outros afazeres e pensamentos, que até os sons à minha volta parecem ter desaparecido. Terão desaparecido à minha volta ou apenas dentro de mim? Hoje vou estar bem atenta, tenho saudades do tempo em que havia esse facto certo e absoluto: a hora das Ave-Marias.
O povo dizia: "Ave-Marias, mulheres em casa". O ditado não falava nos homens e é verdade que eles, ao contrário, podiam ficar na venda, cantando um xaramba ou apenas bebendo com os amigos.
Mas em casa do meu avolito, que era um pai muito rigoroso, ninguém tinha ordem para estar fora de casa depois do toque que anunciava o anoitecer. Com dezoito, dezanove ou vinte anos, por vezes já "andando para casar", os meus tios eram obrigados a cumprir a regra imposta ou não escapariam de uma malha.
A minha avolita preocupava-se à medida que se ia aproximando a hora das Ave-Marias! Preocupava-se e por vezes inventava uma pequena mentira para salvar algum dos filhos do previsível castigo. Chegou até a meter-se ao caminho para os chamar ou a alegar que os tinha mandado fazer algo muito importante.
Sobre as "Ave-Marias" também se dizia que anunciavam coisas certas. Se alguém estivesse a falar de um determinado assunto e desse do toque das "Ave-Marias", aquilo que estava a ser dito eram "coisas certas".
Penso que os sinos de todas as igrejas devem ainda assinalar as "Ave-Marias". Como é então possível que eu nunca mais as tenha ouvido? Talvez ande demasiado ocupada com outros afazeres e pensamentos, que até os sons à minha volta parecem ter desaparecido. Terão desaparecido à minha volta ou apenas dentro de mim? Hoje vou estar bem atenta, tenho saudades do tempo em que havia esse facto certo e absoluto: a hora das Ave-Marias.