domingo, dezembro 10, 2006

Fazer imenções

"Não faças imenções!" Passo a vida a ouvir esta recomendação, porque tenho o jeito de acompanhar tudo o que digo com gestos. Eu reconheço que tanta linguagem gestual pode ser enervante para quem vai ao meu lado, estando eu a conduzir. Tento controlar mas daí a pouco volto ao mesmo.
Acho que se me amarrassem as mãos eu ficaria muda, não diria nada, porque as duas coisas, palavras e gestos, estão ligados em mim de uma forma especial.
Ora bem, segundo a minha mãe eu terei herdado esta característica do meu avô paterno. "Não faças imenções como o ti Ti Zé da Mata". O meu avô das Fontes contava todo e qualquer episódio com tal precisão e pormenor que repetia os gestos do acontecimento que estava a narrar, fossem eles quais fossem.
Há quem jure a pés juntos tê-lo visto certa vez atirar-se para o chão para demonstrar a queda de alguém da forma mais exacta possível. "Minha salvação quema isto é verdade, isto foi mesmo assim tal e qual!"
O meu avô das Fontes adorava narrar acontecimentos, mas da forma o mais exacta possível. O que ele contava tinha de ser tal e qual o que tinha acontecido. E se fosse preciso atirar-se para o chão em nome da credibilidade da informação, ele não hesitava. Por isso é que fazia imenções, não me perguntem o que faz o "i" no início da palavra porque não sei. Sempre ouvi "imenções" e não menções.
O meu avô não sabia ler. Nunca pegou num jornal e morreu sem ter tido televisão. Apenas teve um rádio de pilhas, trazido de Inglaterra pelo meu tio. Mas contava tudo com pormenor, sempre com muitas "imenções" e é por isso que eu o considero o primeiro jornalista da família.

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