sexta-feira, novembro 17, 2006

Não está pedindo pão!

"Ah pequena, acaba o bordado. Quemássim ele não ficar aí te pedindo pão."
O bordado, uma mimosa colcha de bebé em ponto de cruz, ia mais ou menos a meio e destinava-se ao bebé dos meus primos da Venezuela. Eu tinha abrandado o ritmo depois de saber que um senhor do nosso sítio embarcara recentemente e não se sabia de mais ninguém que seguisse viagem em breve e pudesse levar a encomenda até ao seu destino.
Indagámos junto de conhecidos e familiares mas não descobrimos mais ninguém com viagem marcada. O bordado começou a ficar um pouco esquecido, no meio do emaranhado das linhas e da revista de onde estava a copiar o desenho.
"- Acaba, quemássim ele não vai ficar te pedindo pão."
Eu nunca tinha ouvido esta expressão. "Não está pedindo pão" quer dizer que não está a incomodar. Esta forma de definir "incomodar" lembra-me um bando de crianças pela casa, puxando as saias da mãe para pedir um bocado de pão com manteiga. Tal como nós fazíamos.
Hoje é ao contrário. São os adultos que "incomodam" as crianças, fazendo-as comer demais, talvez para compensar as memórais de uma infância em que havia tudo de menos. As crianças já não puxam as saias das mães, pedindo um bocado de pão com manteiga. Agora imploram para que as deixem comer um pouco menos.
O bordado não vai ficar pedindo pão, não senhora. Segui o conselho e não só já acabei o desenho a ponto de cruz, como costurei toda a colcha, com forro de cor a combinar, tecido fofinho por dentro, renda de bordado suiço à volta e fita com laços nos cantos. Está pronta e ainda não conseguimos um portador. Mas se aparecer algum, sem se esperar, ao menos está pronta. Não está pedindo pão!

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