sábado, outubro 07, 2006
A menina que não deixava a mãe catar
Era uma vez uma menina que não deixava a mãe catá-la. Fazia uma birra e não deixava e por isso os piolhos iam tomando conta da cabeça da menina. Certa noite, enquanto a menina estava a dormir, os piolhos fizeram uma longa trança com o cabelo da menina e arrastam-na para o mar.
-E depois, o que é que aconteceu à menina?
A menina foi levada para o mar pelos piolhos e aí deve ter sido comida pelos peixes, porque nunca mais ninguém viu a menina.
Esta história assustava as crianças do meu tempo, assustava sim senhor. Mas só tomava proporções de verdadeiro terror quando a minha mãe estava na cozinha a arranjar uma espada, com um monte de folhas de pimpineleira ao lado, para depois raspar a pele preta da espada, e nos chamava.
Nós íamos a correr, respondendo ao chamamento, e então a minha mãe mostrava-nos algo que encontrara dentro da barriga da espada. Era uma parte qualquer do debulho, que não sei qual era, mas juro que era igual a uma pequena mão de criança.
-Lembram-se da história da menina que não deixava a mão catar? Deve ter sido comida por esta espada, e esta deve ser a mão da menina.
Nós ficávamos aterrorizadas. Lembro-me de não conseguir dormir, com medo que aquela história se tornasse real também comigo ou com uma das minha irmãs. Fechava os olhos e via a minha mãe a retirar de dentro da espada a mão da outra menina, coitadinha da menina.
Achava esta história uma verdadeira tortura e jurei que nunca a haveria de contar. Mas a verdade é que já quebrei a promessa, confesso.
-E depois, o que é que aconteceu à menina?
A menina foi levada para o mar pelos piolhos e aí deve ter sido comida pelos peixes, porque nunca mais ninguém viu a menina.
Esta história assustava as crianças do meu tempo, assustava sim senhor. Mas só tomava proporções de verdadeiro terror quando a minha mãe estava na cozinha a arranjar uma espada, com um monte de folhas de pimpineleira ao lado, para depois raspar a pele preta da espada, e nos chamava.
Nós íamos a correr, respondendo ao chamamento, e então a minha mãe mostrava-nos algo que encontrara dentro da barriga da espada. Era uma parte qualquer do debulho, que não sei qual era, mas juro que era igual a uma pequena mão de criança.
-Lembram-se da história da menina que não deixava a mão catar? Deve ter sido comida por esta espada, e esta deve ser a mão da menina.
Nós ficávamos aterrorizadas. Lembro-me de não conseguir dormir, com medo que aquela história se tornasse real também comigo ou com uma das minha irmãs. Fechava os olhos e via a minha mãe a retirar de dentro da espada a mão da outra menina, coitadinha da menina.
Achava esta história uma verdadeira tortura e jurei que nunca a haveria de contar. Mas a verdade é que já quebrei a promessa, confesso.