sábado, setembro 16, 2006

Romance

Há vinte anos, quando comecei a recolher versos, histórias, e todo o tipo de tradições da zona em que vivo, a minha avó ainda nos fazia companhia e lembrava-se de excertos de alguns antigos romances tradicionais. Não se lembrava de nenhum na totalidade, mas de alguns ainda conseguia dizer grande parte. Tinha então oitenta e seis anos e a memória começava a atraiçoá-la, como é natural. Eu tinha gosto em ouvi-la e ia escrevendo essas histórias num pequeno caderno, mesmo sem estarem completas, mesmo com as hesitações dela pelo meio, mesmo sem sequer saber o título. Nunca tive tempo de investigar de que romances se tratavam. Mas ainda guardo, com imenso carinho, todas as anotações que fui fazendo nesse ano de 1986. Dei com o velho caderno um destes dias e lá dentro, numa folha solta, estava este romance tradicional, a parte que dele a minha avó se recordava. São benvindos todos os contributos, pois gostaria de saber de que romance se trata.

Menina que tanto sabe
Também há-de saber ler
Sei ler e sei escrever
Também sei andar de roda
Eu tinha perfeito gosto
de entrar na sua escola
(ou: ainda gostava de entrar
Menina na tua escola)
Minha escola 'tá fechada
Nela não entra ninguém
Só a quem eu tenho amizade
A quem mais eu quero bem
A quem mais eu quero bem
Dentro do meu coração
Mas eu peço por caridade
Que não me toques c'a mão
Eu não te toco c'a mão
Nem me desvelo convosco
Mas dormir na tua cama
Eu tinha perfeito gosto
Esse gosto que vós tendes
Desgostai por vida vossa
Que esta rosa que aqui vedes
Já é doutro não é vossa.
Se essa rosa não é minha
Eu espero dela ser
Menina diga a seu pai
Que nos mande a receber
Não digo nada a meu pai
São palavras escusadas
Qu'eu não 'tou p'ra fazer coisas
.....................................................

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