domingo, setembro 10, 2006

Aprender a linguagem dos melros

Lembrava-me vagamente de me contarem esta história quando era pequena. A história do rapaz que decidiu ir aprender a linguagem dos melros.
Hoje surpreendi-me ao ouvir a minha mãe contá-la aos netos, procurando diverti-los por uns minutos, e quase fazendo esquecer o insuportável calor da meia-tarde.

Era uma vez três irmãos. Um dia, eles caminharam de casa para irem aprender coisas. (Aqui a minha mãe hesitou um pouco. A história original devia conter mais pormenores nesta parte.) Dois deles quiseram ir aprender coisas importantes. Mas o terceiro teimou que aquilo que queria aprender era a linguagem dos melros.
Tanto teimou que foi para o meio de uma floresta e ficou lá imenso tempo, a aprender a linguagem dos melros. Quando voltou vinha todo cagado dos melros e além disso aquilo que aprendeu não tinha utilidade nenhuma. Os outros irmãos, pelo contrário, vinham todos bem vestidos e sabiam coisas que os podiam fazer ganhar dinheiro e ter uma vida melhor.
Tempos mais tarde, apareceram dois melros sempre a brigar junto do palácio do rei. O rei queria à força saber qual era o motivo de tanta briga. Mandaram chamar o rapaz que tinha aprendido a linguagem dos melros e ele descobriu que a razão: Parece que havia lá um ninho, que era de uma, mas a outra foi para lá e depois teimava que os filhos eram dela, quando na verdade eram da outra.
O rapaz conseguiu descobrir o mistério e, em pagamento, o rei deu-lhe um saco de dinheiro. Resultado: ele ficou com muito mais dinheiro do que os outros irmãos, que tinham ido aprender coisas supostamente muito importantes e tinham voltado a casa todos bem vestidos, em vez de chegarem cagados dos melros.

Os netos riram-se. Ouviram a história com toda a atenção, fazendo intervalo a uma disputa entre eles por causa de um jogo que uns queriam jogar e outro não.
Eu também sorri. Não me lembrava de nada dessa parte do rei e do dinheiro. Não resisti a uma pequena interpretação: "Isto quer dizer que tudo o que aprendemos um dia pode ser importante, mesmo que para as outras pessoas pareça não ter a mínima utilidade e seja considerado ridículo."

Comments:
Pois é,
eu também sou da opinião de que o saber não ocupa lugar...
 
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