sexta-feira, agosto 04, 2006
Pelas portas....
"És minha mãe pelas portas". Pelas portas, ou seja, tal e qual. Normalmente dizem-se que sou alguém "pelas portas" para acentuar um defeito qualquer. Mas neste caso eu até sorrio. Não faz mal, mãe. Porque os defeitos da minha avolita eu não me importo de ter.
Encolho os ombros e transformo em qualidade o suposto defeito que me torna a minha avó "pelas portas". Gostava, em especial, quando a minha mãe me dizia isso a propósito do jardim. A minha avolita adorava plantas e tudo o que metia na terra pegava. Todos os dias dedicava tempo às flores, mesmo que tivesse a casa em desordem, o jantar atrasado ou até algum bordado com pressa. As flores eram sagradas e ela não abdicava desse tempo.
De vez em quando sou muitas outras pessoas "pelas portas". Quando digo que tenho saudades de comer casco de milho, rapado do fundo da panela ou outra qualquer comida que não lembraria a ninguém, sou uma tia minha "pelas portas", porque ninguém se esquece do seu estranho gosto para coisas azedas, para comida queimada, ou sei lá mais o quê.
Se guardar um segredo, passo a ser outra tinha minha "pelas portas", porque uma das suas características era não gostar de revelar nada da sua vida privada, embora adorasse saber tudo o que respeitava à dos outros.
Se sair de casa atrasada, esbaforida e a reclamar porque já é tarde, passo a ser, pelas portas, uma mulher do nosso sítio que era incapaz de sair para lagum sítio a tempo e horas. Corria sempre, numa aflição, atrás dos autocarros, gritando para que o motorista a esperasse.
Se estiver sempre a queixar-me sou outra pessoa qualquer pelas portas, se estiver com má cára, outra, e assim por diante. Não me importo de ser tanta gente "pelas portas" ao ritmo dos meus humores, gostos e hábitos.
A todas as comparações acho piada, e à expressão "pelas portas" também. Não encontro explicação para ela, nem sequer daquelas que eu própria às vezes invento. Sei que não me importo. E no caso da minha avolita, fico contente. "És minha mãe pelas portas." Ela ficaria contente se soubesse, tenho a certeza absoluta.
Encolho os ombros e transformo em qualidade o suposto defeito que me torna a minha avó "pelas portas". Gostava, em especial, quando a minha mãe me dizia isso a propósito do jardim. A minha avolita adorava plantas e tudo o que metia na terra pegava. Todos os dias dedicava tempo às flores, mesmo que tivesse a casa em desordem, o jantar atrasado ou até algum bordado com pressa. As flores eram sagradas e ela não abdicava desse tempo.
De vez em quando sou muitas outras pessoas "pelas portas". Quando digo que tenho saudades de comer casco de milho, rapado do fundo da panela ou outra qualquer comida que não lembraria a ninguém, sou uma tia minha "pelas portas", porque ninguém se esquece do seu estranho gosto para coisas azedas, para comida queimada, ou sei lá mais o quê.
Se guardar um segredo, passo a ser outra tinha minha "pelas portas", porque uma das suas características era não gostar de revelar nada da sua vida privada, embora adorasse saber tudo o que respeitava à dos outros.
Se sair de casa atrasada, esbaforida e a reclamar porque já é tarde, passo a ser, pelas portas, uma mulher do nosso sítio que era incapaz de sair para lagum sítio a tempo e horas. Corria sempre, numa aflição, atrás dos autocarros, gritando para que o motorista a esperasse.
Se estiver sempre a queixar-me sou outra pessoa qualquer pelas portas, se estiver com má cára, outra, e assim por diante. Não me importo de ser tanta gente "pelas portas" ao ritmo dos meus humores, gostos e hábitos.
A todas as comparações acho piada, e à expressão "pelas portas" também. Não encontro explicação para ela, nem sequer daquelas que eu própria às vezes invento. Sei que não me importo. E no caso da minha avolita, fico contente. "És minha mãe pelas portas." Ela ficaria contente se soubesse, tenho a certeza absoluta.