quinta-feira, agosto 03, 2006

O seu juizinho!

"É a vista e o juizinho. É o melhor que se temos!" Voltei-me de imediato para o lugar de onde vinha a voz. Era uma mulher de meia-idade, que continuou a falar sobre doenças e desgraças, coisas que tinham afectado familiares ou conhecidos, cada situação pior do que a outra. A interlocutora abanava a cabeça, ora de uma maneira, ora de outra, e contava também o seu rol de desgraças.
A vista e o juizinho! Muito bem visto. Nunca tinha pensado nas coisas assim. Sobretudo o juizinho. É interessante a forma como o povo coloca a palavra no diminutivo, não lhe diminuindo a importância, bem pelo contrário. Reforça o significado do juizinho, dando-lhe o estatuto de algo que precisa de ser acarinhado, como as crianças, como tudo o que é frágil.
"E ela tem o seu juizinho?" A pergunta surge quase sempre em conversas sobre pessoas idosas. Depois de abordar o estado geral de saúde, a dificuldade em andar, as dores, as doenças mais ou menos estranhas, os remédios, as preocupações e as idas ao médico, eis que vem a pergunta-chave. "- E ela (ou ele) tem o seu juizinho?" "- Lá isso tem, sim senhora, muitas Graças a Deus." "- Menos mal, sempre já é bonzinho. Lá quando uma pessoa não tem juizinho é uma tristeza...."
Conversa ouvida aqui, conversa ouvida acolá, fico eu a pensar no meu juizinho. De como quero, sobretudo, ter sempre o meu juizinho. Quando perguntarem de mim a alguém, estando eu bem velhinha e doente, espero que a parte final da conversa seja assim, como uma que ouvi há dias numa rua da cidade: "- E ela tem o seu juizinho?" "-Lá o seu juizinho ela tem, graças a Deus."

Comments:
Já desde crianças nos ensinam a mostrar onde está o juizinho, mais velhos o comentário volta de novo, ele(a) ainda tem o seu juizinho graças a Deus!
 
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