domingo, agosto 20, 2006
Comprar nabo em saco
Não me lembro de alguma vez na vida ter comprado nabos. É um dos poucos legumes que nunca comprei porque o meu pai de vez em quando faz uma sementeira. E eu, nas minhas visitas quase diárias, acabo regressando a casa com dois ou três nabos fresquinhos. Põem um sabor tão especial nas sopas, que se nota logo a diferença quando, por algum motivo, não há sequer uma raminha de nabo.
Quando era criança, lembro-me de andar a brincar no terreiro e a minha mãe gritar de dentro da cozinha: " Líiiiilia, vai me arrancar um nabinho para deitar na massa." Eu deixava a brincadeira e encaminhava-me para o poio que ficava logo a seguir à "casa de lavar".
Como é mesmo que ela tinha dito? "Um nabinho". Então, para cumprir à risca a solicitação, olhava bem para o poio cheio de nabos e começava à procura de um que fosse pequenino, afinal ela tinha dito "um nabinho".
Chegava à cozinha, estendia-lhe o "nabinho" e ela: "O quê? Mas isto é alguma coisa? Isto não chega para esta panela de massa." Eu ficava confusa: "Mas a mãe disse um nabinho." "Pois disse, mas era uma forma de falar. Eu queria uns dois ou três, e maiores." Foi assim, com a simples história do nabinho, que aprendi que há "formas de falar" e que nem sempre aquilo que se diz é exactamente aquilo que se quer dizer. O meu interesse pelas palavras aumentou.
Desembrulhei agora esta memória, a propósito da expressão popular "comprar nabo em saco". Em sentido literal, eu nunca comprei nabos, muito menos em saco. Mas em sentido figurado, é óbvio que sim. Quem se pode gabar de nunca o ter feito? "Comprar nabo em saco" é deixar-se enganar, deixar-se levar. Equivale a ser ingénuo, a acreditar em algo que não corresponde à realidade. Julgar que se leva nabos bons dentro do saco e, afinal, eles não prestarem.
Por mais cautelosas que as pessoas sejam, lá vem o dia em que compram "nabo em saco". Até uma simples amizade, que se julgava simples e sincera, pode não passar de um nabo podre dentro de um saco. Dói carregar com o peso de nabos assim, mas esse é um dos inúmeros riscos de viver.
Quando era criança, lembro-me de andar a brincar no terreiro e a minha mãe gritar de dentro da cozinha: " Líiiiilia, vai me arrancar um nabinho para deitar na massa." Eu deixava a brincadeira e encaminhava-me para o poio que ficava logo a seguir à "casa de lavar".
Como é mesmo que ela tinha dito? "Um nabinho". Então, para cumprir à risca a solicitação, olhava bem para o poio cheio de nabos e começava à procura de um que fosse pequenino, afinal ela tinha dito "um nabinho".
Chegava à cozinha, estendia-lhe o "nabinho" e ela: "O quê? Mas isto é alguma coisa? Isto não chega para esta panela de massa." Eu ficava confusa: "Mas a mãe disse um nabinho." "Pois disse, mas era uma forma de falar. Eu queria uns dois ou três, e maiores." Foi assim, com a simples história do nabinho, que aprendi que há "formas de falar" e que nem sempre aquilo que se diz é exactamente aquilo que se quer dizer. O meu interesse pelas palavras aumentou.
Desembrulhei agora esta memória, a propósito da expressão popular "comprar nabo em saco". Em sentido literal, eu nunca comprei nabos, muito menos em saco. Mas em sentido figurado, é óbvio que sim. Quem se pode gabar de nunca o ter feito? "Comprar nabo em saco" é deixar-se enganar, deixar-se levar. Equivale a ser ingénuo, a acreditar em algo que não corresponde à realidade. Julgar que se leva nabos bons dentro do saco e, afinal, eles não prestarem.
Por mais cautelosas que as pessoas sejam, lá vem o dia em que compram "nabo em saco". Até uma simples amizade, que se julgava simples e sincera, pode não passar de um nabo podre dentro de um saco. Dói carregar com o peso de nabos assim, mas esse é um dos inúmeros riscos de viver.