sábado, junho 10, 2006
As estrelas e as verrugas
"Não apontes." Era quase um grito, uma ordem tão firme, que eu recolhia a mão, por vezes metendo-a no bolso do vestido de chita ou escondendo-a atrás das costas, e contentava-me a contar as estrelas com os olhos.
Quando eu era criança, era proibido apontar para as estrelas. Era poibido contá-los, seguindo-as com o indicador, para facilitar a tarefa. Mas olhar para as estrelas e contá-las era tão bom! Como resistir a essa força mágica que nos fazia passar imenso tempo a olhar para o céu, nas noites estreladas?
"Não apontes. Se apontares para as estrelas nascem-te verrugas nos dedos." Eu ficava com medo e devo ter cumprido tão à risca que não me lembro de ter tido verrugas nos dedos, uma coisa comum quando a minha mãe era criança.
Havia vários remédios para tentar curar as verrugas. Acho que um deles era esfregar sal e depois atirá-lo para o lume do lar, mas depois tapar os ouvidos e sair a correr para não ouvir o barulho do sal a rebentar no fogo.
Outro tratamento consistia em contar as verrugas e por cada uma delas fazer um talho num pêro. O pêro era pendurado na chaminé, a apanhar o fumo que ia saindo do lar. À medida que o pêro ia murchando, as verrugas iam secando até desaparecerem. Não sei se estes remédios funcionam porque nunca precisei de recorrer a nenhum desses deles.
"Por cada estrelas que contas, é uma verruga que nasce." Cada pormenor que nos adiantavam, tornava as perspectivas ainda mais assustadoras. Tantas estrelas no céu. Quem consegue imaginar nas mãos uma verruga por estrela?
Durante toda a infância ouvi os adultos repetirem a história das verrugas associada à contagem das estrelas. Tinha medo e continha-me sempre.
Só muito mais tarde, nos revelaram a outra versão. "Por cada estrela que se conta, é um ano que atrasa o casamento!" Suspeito que este fosse o verdadeiro motivo de tanto empenho em que eu e as minhas duas irmãs não contássemos as estrelas.
A história das verrugas devia ser invenção. Porque seria estranho colocar a perspectiva do casamento a crianças tão pequenas. Até pecado. "Quem conta as estrelas, fica com verrugas nos dedos." Bem mais assustador do que dizer: "Se contares muitas estrelas não te casas, ou então casas quando fores velhinha, depende de quantas estrelas contares."
Uma vez mais, o velho ditado da regra e da excepção parece encaixar na minha história. "Não há regra sem excepção".
Quando eu era criança, era proibido apontar para as estrelas. Era poibido contá-los, seguindo-as com o indicador, para facilitar a tarefa. Mas olhar para as estrelas e contá-las era tão bom! Como resistir a essa força mágica que nos fazia passar imenso tempo a olhar para o céu, nas noites estreladas?
"Não apontes. Se apontares para as estrelas nascem-te verrugas nos dedos." Eu ficava com medo e devo ter cumprido tão à risca que não me lembro de ter tido verrugas nos dedos, uma coisa comum quando a minha mãe era criança.
Havia vários remédios para tentar curar as verrugas. Acho que um deles era esfregar sal e depois atirá-lo para o lume do lar, mas depois tapar os ouvidos e sair a correr para não ouvir o barulho do sal a rebentar no fogo.
Outro tratamento consistia em contar as verrugas e por cada uma delas fazer um talho num pêro. O pêro era pendurado na chaminé, a apanhar o fumo que ia saindo do lar. À medida que o pêro ia murchando, as verrugas iam secando até desaparecerem. Não sei se estes remédios funcionam porque nunca precisei de recorrer a nenhum desses deles.
"Por cada estrelas que contas, é uma verruga que nasce." Cada pormenor que nos adiantavam, tornava as perspectivas ainda mais assustadoras. Tantas estrelas no céu. Quem consegue imaginar nas mãos uma verruga por estrela?
Durante toda a infância ouvi os adultos repetirem a história das verrugas associada à contagem das estrelas. Tinha medo e continha-me sempre.
Só muito mais tarde, nos revelaram a outra versão. "Por cada estrela que se conta, é um ano que atrasa o casamento!" Suspeito que este fosse o verdadeiro motivo de tanto empenho em que eu e as minhas duas irmãs não contássemos as estrelas.
A história das verrugas devia ser invenção. Porque seria estranho colocar a perspectiva do casamento a crianças tão pequenas. Até pecado. "Quem conta as estrelas, fica com verrugas nos dedos." Bem mais assustador do que dizer: "Se contares muitas estrelas não te casas, ou então casas quando fores velhinha, depende de quantas estrelas contares."
Uma vez mais, o velho ditado da regra e da excepção parece encaixar na minha história. "Não há regra sem excepção".
Comments:
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por onde andava você, tão longe e tão próxima???eu também ouvi, vezes sem conta a proibição de contar estrelas..contei tantas quantas pude e vivi mais na lua do que na terra..e até hoje, ainda passeio por lá
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