sábado, maio 13, 2006

A mulher do açucar

Entre as inúmeras pessoas que todos os dias passavam em casa dos meus avolitos a pedir uma esmolinha, porque os tempos eram de grande miséria, havia uma mulher que ficou conhecida até hoje como "a mulher do açucar", baptizada pela minha mãe, pelas minhas tias e pelos meus tios.
Nesse tempo de guerra, um dos produtos mais difíceis de arranjar era açúcar. Para conseguir um pouco de açúcar era necessário ter uma senha e mesmo com a senha a quantidade atribuida era muito pouca.
Não se sabe como, mas de certeza devido a algum conhecimento, essa mulher conseguia arranjar um pouco de açucar, que levava consigo nessa deambulação pelo campo, para oferecer a quem mais a ajudasse com produtos da terra, para matar a fome.
Foi esse o motivo do nome que passaram a usar para a identificar. Provavelmente chamava-se Maria ou Conceição ou outro nome comum nessa época, e assim sendo, tornava-se muito mais fácil saber de quem se tratava.
Ora, a mulher do açucar sentava-se a conversar na cozinha da minha avó, davam-lhe o que podiam, e depois, muito bem sentada, dizia: "Agora vou me embora. Muito obrigada, senhora Maria. Até mais outra, se Deus quiser." Dizia isto tudo, mas continuava muito bem sentada. Despedia-se e continuava sentada no banco comprido da cozinha.
Toda a gente achava aquilo diferente. Ninguém se despedia continuanao sentada, como se não fizesse a mínima intenção de se ir embora. Por isso é que ainda hoje quando alguém demora demaisado numa despedidada, quando parece que vai mas não vai, diz-se que é "a mulher do açucar".

Comments:
o nome engana :)
 
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