sexta-feira, abril 21, 2006
Parecia uma rainha!
"Se visse cuma'ela ia! Parecia uma rainha!" Havia muito trânsito e eu senti-me satisfeita porque se assim não fosse, o mais provável era não ter acabado de ouvir a história que o taxista contava, com todo o pormenor.
Andava-se a passo de caracol na Avenida do Mar e o senhor começou por comentar que hoje em dia toda a gente tem carro: "Numa casa com quatro filhos, há cinco carros na garagem." Que engraçada esta conclusão matematica, pensei com os meus botões. "Quantos não andam por aí a pedir esmola e depois pegam no carro e vão passear ao fim-de-semana." Ah sim? - exclamei, mais em forma de espanto do que de pergunta.
Então, o taxista decidiu contar uma história que se tinha passado com ele há alguns anos, ainda antes do euro. Todos os dias passava ali, naquela mesma avenida, uma mulher a pedir esmola. E ele, pelo menos uma ou duas vezes por semana, dava a essa mulher uma moeda de vinte escudos.
Ora, um dia vai o senhor ao Porto Moniz em serviço com um casal de turistas. Na hora do almoço o casal pede-lhe indicações e ele recomenda dois restaurantes da vila, e combina o local para se encontrarem depois do almoço. E foi quando estacionava nesse local, que se apercebeu de que ia a passar uma pesssoa que conhecia.
Era a mulher que pedia esmola na avenida e a quem ele dava, pelo menos duas vezes por semana, uma moeda de 20 escudos. "Ela pôs-se c'as costas arcadas, para eu não a ver, mas eu vi bem que era ela, e disse que não era preciso ela se esconder. As filhas ficaram irritadas e viraram-se contra mim."
A mulher entrou no carro das filhas e o taxista, estupefacto, ficou jurando a si mesmo que nunca mais lhe daria as duas moedas de vinte escudos, no mínimo, que costumava dar-lhe de esmola todas as semanas.
"As filhas tinham carro, sim senhora. E se visse cum'a ela ia?!! Parecia uma rainha!"
Graças ao trânsito parado, deu tempo para a história toda e eu ainda me ri e, antes de sair no meu destino, ainda tive tempo para me lembrar desta forma que antigamente se usava para caracterizar uma pessoa bem vestida, aparentando riqueza.
"Parece uma rainha!" A minha avolita dava um inflexão especial à voz para se referir assim a alguma mulher do nosso sítio, ou de outro, que gostasse de se armar, vestindo sempre à moda e acima das suas reais posses. Mas também usava a mesma expressão, apenas com outro tom de voz, para se referir a uma mulher de extraordinária beleza.
A minha avó, que Deus lhe dê o céu, nasceu em 1901. Entre as muitas histórias que me contava, estava a história verdadeira da rainha e do rei de Portugal que tinham visitado a Madeira com grande pompa, e que ela nunca esqueceu, apesar de ser criança na altura. Não admira que lhe tivesse ficado na ideia a imagem dessa rainha como o exemplo supremo de beleza e de elegância no vestir.
O trânsito caótico na Avenida, um taxista bom contador de histórias e uma mulher que pedia esmola no tempo dos escudos mas vestia "como uma rainha" e cujas filhas tinham automóvel, fizeram-me recordar a minha avolita e essa memória tornou mais bonito o meu dia.
Descansem os leitores do meu blog, que por minha vontade ele não vai acabar. Apenas estive de férias. Em terras de Sua Majestade, a rainha de Inglaterra.
Andava-se a passo de caracol na Avenida do Mar e o senhor começou por comentar que hoje em dia toda a gente tem carro: "Numa casa com quatro filhos, há cinco carros na garagem." Que engraçada esta conclusão matematica, pensei com os meus botões. "Quantos não andam por aí a pedir esmola e depois pegam no carro e vão passear ao fim-de-semana." Ah sim? - exclamei, mais em forma de espanto do que de pergunta.
Então, o taxista decidiu contar uma história que se tinha passado com ele há alguns anos, ainda antes do euro. Todos os dias passava ali, naquela mesma avenida, uma mulher a pedir esmola. E ele, pelo menos uma ou duas vezes por semana, dava a essa mulher uma moeda de vinte escudos.
Ora, um dia vai o senhor ao Porto Moniz em serviço com um casal de turistas. Na hora do almoço o casal pede-lhe indicações e ele recomenda dois restaurantes da vila, e combina o local para se encontrarem depois do almoço. E foi quando estacionava nesse local, que se apercebeu de que ia a passar uma pesssoa que conhecia.
Era a mulher que pedia esmola na avenida e a quem ele dava, pelo menos duas vezes por semana, uma moeda de 20 escudos. "Ela pôs-se c'as costas arcadas, para eu não a ver, mas eu vi bem que era ela, e disse que não era preciso ela se esconder. As filhas ficaram irritadas e viraram-se contra mim."
A mulher entrou no carro das filhas e o taxista, estupefacto, ficou jurando a si mesmo que nunca mais lhe daria as duas moedas de vinte escudos, no mínimo, que costumava dar-lhe de esmola todas as semanas.
"As filhas tinham carro, sim senhora. E se visse cum'a ela ia?!! Parecia uma rainha!"
Graças ao trânsito parado, deu tempo para a história toda e eu ainda me ri e, antes de sair no meu destino, ainda tive tempo para me lembrar desta forma que antigamente se usava para caracterizar uma pessoa bem vestida, aparentando riqueza.
"Parece uma rainha!" A minha avolita dava um inflexão especial à voz para se referir assim a alguma mulher do nosso sítio, ou de outro, que gostasse de se armar, vestindo sempre à moda e acima das suas reais posses. Mas também usava a mesma expressão, apenas com outro tom de voz, para se referir a uma mulher de extraordinária beleza.
A minha avó, que Deus lhe dê o céu, nasceu em 1901. Entre as muitas histórias que me contava, estava a história verdadeira da rainha e do rei de Portugal que tinham visitado a Madeira com grande pompa, e que ela nunca esqueceu, apesar de ser criança na altura. Não admira que lhe tivesse ficado na ideia a imagem dessa rainha como o exemplo supremo de beleza e de elegância no vestir.
O trânsito caótico na Avenida, um taxista bom contador de histórias e uma mulher que pedia esmola no tempo dos escudos mas vestia "como uma rainha" e cujas filhas tinham automóvel, fizeram-me recordar a minha avolita e essa memória tornou mais bonito o meu dia.
Descansem os leitores do meu blog, que por minha vontade ele não vai acabar. Apenas estive de férias. Em terras de Sua Majestade, a rainha de Inglaterra.