quarta-feira, março 15, 2006
Abobareiras
Eu sei. A palavra correcta é "aboboreira" mas não soa bem aos meus ouvidos, habituados desde bem pequena a ouvirem a palavra com um "a" no lugar do segundo "o".
"Abobareira" é a palavra que me soa bem, a palvra que me parece normal, porque foi a que eu aprendi a usar sempre que me queria referir à planta que dá abóboras, ou então a uma pequena flor de que sempre gostei, mas que cedo me apercebi ser popularmente odiada devido ao mau cheiro. Acho lindas as capuchinhas que nesta altura tingem os campos de variadas manchas de cor, mas esta palavra é relativamente recente no meu vocabulário. Na infância, aprendi a referir-me a essas flores como "abobareiras do diabo", que sempre é melhor do que a forma como é conhecida noutras freguesias:"bufas de velha".
Sobre as verdadeiras "abobareiras", acho piada à palavra "caseira" que é o nome atribuído ao local onde são plantadas as pevides, que eu durante muito tempo pensei serem "povides", porque era assim que me parecia ouvir as pessoas adultas se referirem a elas.
Recordo também o uso de folhas de "abobareira", bem como pimpineleira, para raspar as partes negras da pele do peixe espada. As folhas, quer de uma quer de outra são àspera e por isso instrumentos ideais nessa tarefa antigamente obrigatória, porque quando se comprava peixe, ele nunca vinha limpo, como agora.
Lembro-me das flores amarelas em forma de canudo, dentro ddas quais as raparigas da geração da minha mãe guardavam zangos (zangãos) na noite de São João, para ps soltarem na manhã seguinte e ficarem a saber, pela rota do voo, o local onde teriam casa quando seguissem o destino de qualquer e se casassem.
Nessa mágica noite de São João, também se enrolava um pouco do nosso cabelo na ponta de uma "abobareira", para que ele fosse crescendo ao ritmo da "abobareira", afinal quanto mais comprido e mais forte o cabelo de uma rapariga, melhor.
Lembro-me de quando as abóboras amarelas eram colocadas, em fila, sobre a beira do telhado da casa, na parte que dava para o terraço da cozinha. Lembro-me das muitas sopas que ao longo do ano seriam feitas com essas abóboras e da planta já seca, retirada finalmente, para dar lugar a outra caseira, com novas pevides.
E lembro-me, claro que me lembro, de aviso que ouvi talvez centenas de vezes: "Não se aponta para a ponta das abóboras (ainda com a flor no bico), porque elas pecam." Acho que sempre segui o aviso à risca, mas mesmo assim, algumas vezes assisti à frustração do meu pai quando abóboras pecavam: ficavam murchas, não cresciam, e era uma tristeza ver perder-se assim um precioso fruto da terra.
"Abobareira" é a palavra que me soa bem, a palvra que me parece normal, porque foi a que eu aprendi a usar sempre que me queria referir à planta que dá abóboras, ou então a uma pequena flor de que sempre gostei, mas que cedo me apercebi ser popularmente odiada devido ao mau cheiro. Acho lindas as capuchinhas que nesta altura tingem os campos de variadas manchas de cor, mas esta palavra é relativamente recente no meu vocabulário. Na infância, aprendi a referir-me a essas flores como "abobareiras do diabo", que sempre é melhor do que a forma como é conhecida noutras freguesias:"bufas de velha".
Sobre as verdadeiras "abobareiras", acho piada à palavra "caseira" que é o nome atribuído ao local onde são plantadas as pevides, que eu durante muito tempo pensei serem "povides", porque era assim que me parecia ouvir as pessoas adultas se referirem a elas.
Recordo também o uso de folhas de "abobareira", bem como pimpineleira, para raspar as partes negras da pele do peixe espada. As folhas, quer de uma quer de outra são àspera e por isso instrumentos ideais nessa tarefa antigamente obrigatória, porque quando se comprava peixe, ele nunca vinha limpo, como agora.
Lembro-me das flores amarelas em forma de canudo, dentro ddas quais as raparigas da geração da minha mãe guardavam zangos (zangãos) na noite de São João, para ps soltarem na manhã seguinte e ficarem a saber, pela rota do voo, o local onde teriam casa quando seguissem o destino de qualquer e se casassem.
Nessa mágica noite de São João, também se enrolava um pouco do nosso cabelo na ponta de uma "abobareira", para que ele fosse crescendo ao ritmo da "abobareira", afinal quanto mais comprido e mais forte o cabelo de uma rapariga, melhor.
Lembro-me de quando as abóboras amarelas eram colocadas, em fila, sobre a beira do telhado da casa, na parte que dava para o terraço da cozinha. Lembro-me das muitas sopas que ao longo do ano seriam feitas com essas abóboras e da planta já seca, retirada finalmente, para dar lugar a outra caseira, com novas pevides.
E lembro-me, claro que me lembro, de aviso que ouvi talvez centenas de vezes: "Não se aponta para a ponta das abóboras (ainda com a flor no bico), porque elas pecam." Acho que sempre segui o aviso à risca, mas mesmo assim, algumas vezes assisti à frustração do meu pai quando abóboras pecavam: ficavam murchas, não cresciam, e era uma tristeza ver perder-se assim um precioso fruto da terra.
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ah pequena ainda lembro de dizer à minha mãe "não gosto de abóbra" e de chamar aos meus amigos "seus abóbras dum raio" ...
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