domingo, janeiro 15, 2006

Na fim do mundo...

Ouço repetir a velha sentença sempre que falamos de algum caso de maldade humana, de desonestidade, de exploração..."Sempre ouvi dizer que p'ra fim do mundo vai ser preciso andar de cabeço em cabeço para encontrar um homem sério."
Antes era comum falarmos nos "cabeços". Agora a palavra até soa estranha. Fica quase esquecida com a existência de boas vias de comunicação. Lembro-me de se apontarem e saberem de cor os cabeços, porque custava a lá chegar, a pé.
Se a sentença está certa, a fim do mundo (a minha avó dizia no femino, sempre) deve estar próxima. Onde andam as pessoas sérias? Onde param as pessoas honestas? Claro que as há e eu conheço algumas. Mas são poucas. Talvez nem cheguem para todos os cabeços da nossa escarpada ilha.
"P'ra fim do mundo vai ser preciso andar de cabeço em cabeço para encontrar um homem sério." A minha mãe repete a entença que ouviu em criança de gente muito antiga, enquanto desenvolvemos a conversa a propósito de uma qualquer notícia de jornal ou de um qualquer facto envolvendo gente conhecida.
Depois complementa com mais alguns estranhos factos que serão um sinal "da fim do mundo": "Eles diziam que antes da fim do mundo ia estar um ano sem nascerem bebés. E já nascem cada vez menos, estão a ver?"
Outro estranho fenómeno anunciador "da fim-do-mundo": "As figueiras vão dar flôr". Toda a gente sabe que as figueiras dão frutos sem darem flôr, mas "na fim do mundo" tudo será ao contrário.
Até hoje não se conhecem figueiras com flor e, no entanto, essas flores que não imagino como poderão ser, são-me sem dúvida mais familiares do que a actual raridade de seriedade humana. Andando "de cabeço em cabeço", há cabeços vazios, erguidos na solidão do mundo. Dói-me.

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