sexta-feira, dezembro 09, 2005
A morte do porco
Logo no primeiro fim-de-semana de Dezembro cumpriu-se a tradição na casa da minha infância. Repetiu-se a função do porco, com todos os passos a que me habituei desde sempre. O meu pai falou ao marchante para matar o porco e depois convidou mais alguns amigos para irem ajudar. Na véspera fomos comprar grão de bico e bacalhau porque esse é o prato obrigatório na "morte do porco". No sábado, logo de manhã, a minha mãe começou a fazer comida porque para além do almoço tem de haver sempre "dentinhos" para ir servindo aos homens, acompanhando copos de vinho seco, medidos directamente do garrafão. Quando lá cheguei, pouco antes do almoço, o porco já estava pendurado e a ser aberto. Estive lá pouco tempo. O suficiente, porém, para sentir a segurança daquilo que se mantém quase igual.
Há muitos anos teriam vindo mais visitas; com certeza não se limitariam aos cinco homens que este ano mataram e arranjaram o porco. Teria havido crianças a brincar pelo terreiro e a atrapalhar o trabalho dos homens, tapando os ouvidos e escondendo-se dentro de casa para não ouvirem os guinchos de aflição do porco, mas depois presenciando tudo com curiosidade e com a alegria de uma autêntica festa. Não se afastariam do local, atentos ao chamuscar do porco com fagulhas de pinheiro. Por mais que fossem enxotados, não arredariam pé porque queriam ver o porco a ser areado com pedras. Teriam talvez brigado para ficar com a bexiga do porco, tranformada numa autêntica bola para brincar.
O domingo foi reservado para picar e salgar o porco, mas num recipiente em plástico. Já não se usa a velha cartola de cimento. Noutros tempos, teriam sido reservados bocados de carne para oferecer a familiares e amigos.
No dia seguinte entrei na cozinha e vi em cima da mesa uma série de frascos cheios de banha e uma grande taça de torresmos. Mas o melhor mesmo foi quando a minha mãe me disse que ia fazer arroz com o coração, o bofe e o barreto do porco. O meu arroz preferido.
Antigamente as pessoas aproveitavam as tripas do porco, que tinham a maçada de ir lavar e pelar na ribeira mais próxima, e coziam com arroz. A minha mãe apenas deita o coração o bofe e o barreto (estômago). Que maravilha de arroz: "Arroz de tripas sem tripas", na definição da minha mãe. Enquanto almoçamos, recorda que a minha minha avó também retirava banha das tripas. Toda a banha tinha de ser aproveitada, não havia outra coisa para temperar a comida. Quando acabava a banha do porco da Festa, era preciso ir comprar banha à venda para deitar na massa ou no milho.
Já está separada a carne para fazer de vinho e alhos no dia de Festa. Agora sim, lembra-me a Festa. Não são os pinheiros artificiais, em as decorações, nem os presépios que se começam a vender cada vez mais cedo, este ano já em Setembro, que me trazem a festa. A minha Festa começa com estes rituais sem tempo.
Há muitos anos teriam vindo mais visitas; com certeza não se limitariam aos cinco homens que este ano mataram e arranjaram o porco. Teria havido crianças a brincar pelo terreiro e a atrapalhar o trabalho dos homens, tapando os ouvidos e escondendo-se dentro de casa para não ouvirem os guinchos de aflição do porco, mas depois presenciando tudo com curiosidade e com a alegria de uma autêntica festa. Não se afastariam do local, atentos ao chamuscar do porco com fagulhas de pinheiro. Por mais que fossem enxotados, não arredariam pé porque queriam ver o porco a ser areado com pedras. Teriam talvez brigado para ficar com a bexiga do porco, tranformada numa autêntica bola para brincar.
O domingo foi reservado para picar e salgar o porco, mas num recipiente em plástico. Já não se usa a velha cartola de cimento. Noutros tempos, teriam sido reservados bocados de carne para oferecer a familiares e amigos.
No dia seguinte entrei na cozinha e vi em cima da mesa uma série de frascos cheios de banha e uma grande taça de torresmos. Mas o melhor mesmo foi quando a minha mãe me disse que ia fazer arroz com o coração, o bofe e o barreto do porco. O meu arroz preferido.
Antigamente as pessoas aproveitavam as tripas do porco, que tinham a maçada de ir lavar e pelar na ribeira mais próxima, e coziam com arroz. A minha mãe apenas deita o coração o bofe e o barreto (estômago). Que maravilha de arroz: "Arroz de tripas sem tripas", na definição da minha mãe. Enquanto almoçamos, recorda que a minha minha avó também retirava banha das tripas. Toda a banha tinha de ser aproveitada, não havia outra coisa para temperar a comida. Quando acabava a banha do porco da Festa, era preciso ir comprar banha à venda para deitar na massa ou no milho.
Já está separada a carne para fazer de vinho e alhos no dia de Festa. Agora sim, lembra-me a Festa. Não são os pinheiros artificiais, em as decorações, nem os presépios que se começam a vender cada vez mais cedo, este ano já em Setembro, que me trazem a festa. A minha Festa começa com estes rituais sem tempo.
Comments:
<< Home
São tradições que perduram... Mas por mim deveriam estar já extintas. A crueldade da morte do bicho, os seus gritos de aflição, o seu esquartejamento nunca poderão ser um festa. Um espectáculo no mínimo grotesco ao qual as crianças deveriam ser poupadas.
Mas enfim...
Postar um comentário
Mas enfim...
<< Home