terça-feira, novembro 22, 2005
Jogar-se e abicar-se
"Eu não me jogo por arroz. Como, mas não me jogo." Jantava-se devagar e com tempo para todas as conversas, sobre todos os assuntos possíveis. Os dois homens demoravam-se mais do que o normal em cada tema, indicando que já não estavam em seco.
Olhando para o prato de arroz à sua frente, foi o senhor João a iniciar o tema das preferências culinárias, com a expressão: "Eu não sou jogador por arroz." Achei piada.
A explicação mais detalhada veio logo a seguir: "Eu como de tudo. Toda a gente tem gostos diferentes e por isso uma pessoa não tem remédio senão comer de tudo. Mas não me jogo por arroz, lá me jogar não me jogo."
"Mais depressa me jogo por um prato de milho do que por um prato de arroz." Tão engraçada esta forma de expressar uma preferência. "Eu não me jogo", neste caso, quer dizer: "eu não aprecio muito."
O senhor José não concordou nem discordou directamente. Demorou-se um pouco e depois expressou a sua preferência. "Cá para mim não há nada como um caldinho em água." Caldinho em água, ora pois então! O senhor João não se joga por arroz e o senhor José joga-se por um caldinho em água.
Lembrei-me de me terem falado há tempos noutra forma sinónima deste "jogar-se" como uma expressão uma preferência: "abicar-se". A conversa era sobre uma cena que se tinha passado também a uma mesa madeirense, à volta da qual se sentava um convidado de fora, pouco conhecedor do falar regional. A dada altura, a madeirense mais idosa afirmou: "Eu não me abico muito por..." (Já não me lembro por quê) e o convidado precisou de tradução simultânea, nunca se tendo esquecido daquela expressão, que passou a usar excessivamente, como forma de expressar as suas e outras preferências.
E, porque as palavras são como as cerejas, acabo de me lembrar da primeira vez em que ouvi o verbo "abicar-se". Estava a fazer uma reportagem junto de um grupo de idosos que tinha ido dar uma passeio na Nau Santa Maria. Na hora de sair da embarcação, por entre o burburinho natural, ouvi uma senhora, já em terra firme, gritar para outra, ainda dentro da nau: "Ah mulher, abica-te(joga-te)". Abiquei-me eu também, contente com a palavra acabada de aprender.
Olhando para o prato de arroz à sua frente, foi o senhor João a iniciar o tema das preferências culinárias, com a expressão: "Eu não sou jogador por arroz." Achei piada.
A explicação mais detalhada veio logo a seguir: "Eu como de tudo. Toda a gente tem gostos diferentes e por isso uma pessoa não tem remédio senão comer de tudo. Mas não me jogo por arroz, lá me jogar não me jogo."
"Mais depressa me jogo por um prato de milho do que por um prato de arroz." Tão engraçada esta forma de expressar uma preferência. "Eu não me jogo", neste caso, quer dizer: "eu não aprecio muito."
O senhor José não concordou nem discordou directamente. Demorou-se um pouco e depois expressou a sua preferência. "Cá para mim não há nada como um caldinho em água." Caldinho em água, ora pois então! O senhor João não se joga por arroz e o senhor José joga-se por um caldinho em água.
Lembrei-me de me terem falado há tempos noutra forma sinónima deste "jogar-se" como uma expressão uma preferência: "abicar-se". A conversa era sobre uma cena que se tinha passado também a uma mesa madeirense, à volta da qual se sentava um convidado de fora, pouco conhecedor do falar regional. A dada altura, a madeirense mais idosa afirmou: "Eu não me abico muito por..." (Já não me lembro por quê) e o convidado precisou de tradução simultânea, nunca se tendo esquecido daquela expressão, que passou a usar excessivamente, como forma de expressar as suas e outras preferências.
E, porque as palavras são como as cerejas, acabo de me lembrar da primeira vez em que ouvi o verbo "abicar-se". Estava a fazer uma reportagem junto de um grupo de idosos que tinha ido dar uma passeio na Nau Santa Maria. Na hora de sair da embarcação, por entre o burburinho natural, ouvi uma senhora, já em terra firme, gritar para outra, ainda dentro da nau: "Ah mulher, abica-te(joga-te)". Abiquei-me eu também, contente com a palavra acabada de aprender.