segunda-feira, setembro 12, 2005
Um quarto de cento de laranjas
"Queres um quarto de cento de laranjas?" É assim que, no círculo restrito familiar, se reage quando se oferece algo ou se faz um favor a alguém e a pessoa ainda por cima se faz esquisita e exigente.
A história deste dito deve ter à volta de cinquenta anos, quando a minha mãe e as minhas tias, todas jovens, passavam o dia ocupadas no bordado. Era normal as raparigas da vizinhança irem "fazer visitas com o bordado."
Levavam o bordado e, todas juntas, à sombra das ameixeiras do terreiro, dos pinheiros do Cabôco ou do Palheirinho que ficava junto à casa, passavam um dia bem mais agradável, porque falavam e riam, nem davam pelo passar do tempo e o bordado até rendia mais.
A Maria ia muitas vezes bordar a casa dos meus avolitos. E quando chegava à hora do jantar, nesse tempo por volta das três da tarde, recebia o inevitável convite para se juntar à família. Em tempos difíceis como aqueles não era um convite para recusar e ela sabia bem disso. No entanto, fazia-se sempre difícil.
"Está bem, eu janto aqui se vocês me derem cinco laranjas." Em casa da Maria não havia laranjeiras e ela aproveita-se da situação para conseguir algumas, indo ao ponto de exigir o número exacto para que coubesse uma a cada membro da sua família.
Imagino a caçoada que a minha mãe e as minhas tias terão feito com aquilo, o que devem ter gozado com aquela situação. De tal forma que o dito ficou e transformou-se. Para enfatizar o ridículo da situação, começaram a dizer que ela queria "um quarto de cento de laranjas".
A partir daí, sempre que alguma situação roçava a esquisitice de alguém perante uma oferta ou um convite, lá vinha a pergunta: "Queres um quarto de cento de laranjas?" Por vezes, para abreviar e porque o sentido da expressão era já bem conhecido de todos, diziam apenas: "Queres um quarto de cento?"
O dito ficou e passou para as gerações seguintes. Eu mesma ainda ontem perguntei à minha filha: "Queres um quarto de cento de laranjas?" Claro que o uso deste tipo de expressões implica a explicação correspondente, mas eu não me importo e até gosto. Imagino que um dia ela poderá registar, como eu, as histórias e as memórias aprendidas com a mãe.
Eu perguntei-lhe se ela queria um quarto de cento de laranjas porque a minha mãe telefonou a convidar-nos para almoçar e eu ouvi-a, ao telefone, perguntar o que era para o almoço e depois ainda por cima como era o arroz. "Então recebes um convite e ainda te fazes esquisita! Queres um quarto de cento de laranjas?"
A história deste dito deve ter à volta de cinquenta anos, quando a minha mãe e as minhas tias, todas jovens, passavam o dia ocupadas no bordado. Era normal as raparigas da vizinhança irem "fazer visitas com o bordado."
Levavam o bordado e, todas juntas, à sombra das ameixeiras do terreiro, dos pinheiros do Cabôco ou do Palheirinho que ficava junto à casa, passavam um dia bem mais agradável, porque falavam e riam, nem davam pelo passar do tempo e o bordado até rendia mais.
A Maria ia muitas vezes bordar a casa dos meus avolitos. E quando chegava à hora do jantar, nesse tempo por volta das três da tarde, recebia o inevitável convite para se juntar à família. Em tempos difíceis como aqueles não era um convite para recusar e ela sabia bem disso. No entanto, fazia-se sempre difícil.
"Está bem, eu janto aqui se vocês me derem cinco laranjas." Em casa da Maria não havia laranjeiras e ela aproveita-se da situação para conseguir algumas, indo ao ponto de exigir o número exacto para que coubesse uma a cada membro da sua família.
Imagino a caçoada que a minha mãe e as minhas tias terão feito com aquilo, o que devem ter gozado com aquela situação. De tal forma que o dito ficou e transformou-se. Para enfatizar o ridículo da situação, começaram a dizer que ela queria "um quarto de cento de laranjas".
A partir daí, sempre que alguma situação roçava a esquisitice de alguém perante uma oferta ou um convite, lá vinha a pergunta: "Queres um quarto de cento de laranjas?" Por vezes, para abreviar e porque o sentido da expressão era já bem conhecido de todos, diziam apenas: "Queres um quarto de cento?"
O dito ficou e passou para as gerações seguintes. Eu mesma ainda ontem perguntei à minha filha: "Queres um quarto de cento de laranjas?" Claro que o uso deste tipo de expressões implica a explicação correspondente, mas eu não me importo e até gosto. Imagino que um dia ela poderá registar, como eu, as histórias e as memórias aprendidas com a mãe.
Eu perguntei-lhe se ela queria um quarto de cento de laranjas porque a minha mãe telefonou a convidar-nos para almoçar e eu ouvi-a, ao telefone, perguntar o que era para o almoço e depois ainda por cima como era o arroz. "Então recebes um convite e ainda te fazes esquisita! Queres um quarto de cento de laranjas?"
Comments:
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Olá, boas tardes! Veio-me á memória outra história, uma vizinha do meu pai,muito golosa por sinal,que chegava a casa sempre na hora do almoço. Diziam-lhe: "Se tivesses trazido uma colher, podias almoçar com agente", até que certo dia ela tira do meio dos seios a colher, senou-se á mesa e lá almoçou. Não sei se nos outros dias também almoçava, mas o comentário era sempre o mesmo!
Aprendi mais uma coisa nova contigo hoje :)
A ideia de criar um blog com esta finalidade é excelente,porque apesar de ser madeirense existem muitas expressões que nunca ouvi,e que fazem parte da nossa cultura...
Obrigada ********************
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A ideia de criar um blog com esta finalidade é excelente,porque apesar de ser madeirense existem muitas expressões que nunca ouvi,e que fazem parte da nossa cultura...
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