sábado, agosto 06, 2005

Atrasar o casamento

Lembro-me pelo menos de quatro coisas que "atrasam o casamento". Cresci ouvindo essas sentenças populares, em jeito de aviso ou de conselho, para que não acontecesse a desgraça de ficar solteira.
Quando saía de casa para algum lado, apressada, com um bocado de pão na mão para ir despachando caminho abaixo, ouvia o aviso da minha avó, para quem uma mulher não tinha vida se não casasse: " Quem come pelo caminho não se casa." Eu achava engraçado e perguntava se era mesmo verdade. Mas a minha mãe dizia que se tinha fartado de comer pão quando ia para a missa, pelo caminho da Rocha, e tinha casado.
Outra coisa proibida era "comer tudo do prato". Normalmente na sequência desta sentença ouvia contar a história da Maria da Pelhanca, que fazia visitas a casa da minha avó e rapava o prato do milho que lhe ofereciam, mas sempre com o cuidado de deixar um cantinho; tinha fome para comer tudo, mas a superstição mandava que deixasse esse bocadinho de milho no canto do prato.
Deixar uma gaveta aberta também "atrasa o casamento", é o que sempre ouvi dizer. Talvez aqui esteja a verdadeira razão de todos os pés amarelos deste mundo, quem é que pode jurar o contrário?
Ter maravilhas à porta tem exactmente o mesmo efeito. É uma flor que as raparigas solteiras devem banir dos seus quintais. Nós nunca ligámos a isso e no nosso jardim sempre cresceram maravilhas bonitas, sobretudo à sombra da "casinhinha das flores", um pequeno telheiro de madeira que existiu à frente da casa para guardar as plantas mais sensíveis, em especial as avencas e os fetos de metro.
Nós achávamos que isso era uma baboseirada e nunca nos tentámos livrar das nossas maravilhas. Mas lembro-me de um dia termos comentado sobre essa superstição numa vinda da missa com uma rapariga que tinha a entrada cheia de maravilhas. É claro que pensámos que ela também não ligava a essas coisas.
Na ida para a missa do domingo seguinte reparámos que as maravilhas tinham desaparecido. A verdade é que ela casou, sim senhora, embora se tenha divorciado depois, e sobre isso não há qualquer ditado popular, já que todos foram inventados nos tempos em que os casamentos eram talhados no céu e ninguém na terra os podia desfazer.
Eu nunca tive a preocupação de deixar um pouco de comer no cantinho do prato, comi muitas vezes pelo caminho, sempre tratei com carinho as maravilhas, e quanto a gavetas abertas não sei mas o mais certo é que em momentos de pressa alguma não tenha ficado devidamente fechada. Está tudo explicado e não há mais conversa!

Comments:
Sabes, quando era criança ouvi dizer, muitas vezes, que sentar numa mesa ou colocar uma aliança atrassava o casamento.
Devo ter sentado em muitas mesas ... rsrsrs ...

Carmo
 
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