quarta-feira, julho 20, 2005
Uma pereira chumbando
É uma pereira do cedo, com peras muito redondas e pequenas. Fica no quintal de uma casa de Santana, daquelas à moda antiga, coberta de colmo quase até ao chão, com o telhado em bico, e o interior muito modesto.
À entrada do terreiro dessa casa de antigamente existe uma enorme ameixeira de São João. Uma ameixeira igual à que havia em casa dos meus avolitos quando eu era pequena, e que era o nosso primeiro sinal do Verão.
Passámos lá e eu parei a olhar para as ameixas iguais às que guardo na memória. Fiquei parada a olhar para elas, e exclamei, feliz como a criança que fui: «Ameixas de São João, mãe!» O dono da casa estava por ali, à entrada do terreiro, e ouviu-me. Estendeu as mãos para a ameixeira, e começou a apanhar ameixas de São João e a passá-las para as minhas mãos em concha.
Agradeci da melhor forma que pude, com um sorriso, e continuámos o caminho. Dei o dia por ganho graças àquele punhado de ameixas, com o bico pintado de encarnado, algumas ainda verdes, com o gosto ácido e bom, igual ao gosto da minha infância, que trago tão bem guardado no coração.
No regresso, passando junto à mesma casa, voltámos a admirar a ameixeira de São João e novamente as mãos encardidas e enrugadas se apressaram a apanhar ameixas. Parámos a conversar. Indagámos por uma pessoa do lugar, madrinha de uma tia minha, e apontaram para uma casa em frente, enquanto nos davam informações sobre o seu estado de saúde. E convidaram-nos a entrar na humilde casa de palha, com o seu cheiro característico, uma cama a um canto e uma enorme caixa de madeira no outro.
Quando nos vínhamos embora, voltaram a dar-me algumas ameixas de São João. Foi então que falámos sobre a pereira, a tal pereira do cedo, com peras muito redondas, que cresce um pouco abaixo da ameixeira de São João, na continuação do caminho.
A minha mãe quis saber se era aquela qualidade de peras que antigamente se utilizava para fazer colares. As peras eram secas e depois enfiadas em forma de colar, para vender nos arraiais. Não. Os donos da pereira não conhecem esse costume.
Enquanto falávamos, admirámos a árvore à nossa frente. A pereira está carregada de frutos de cima a abaixo, os galhos vergando-se de tanto peso. «Ela ‘tá chumbando até ao chão!» – afirma, com orgulho, o dono da pereira. É verdade, a pereira está chumbando! O dia, que já estava ganho há muito, com as primeiras ameixas de São João que me deram, tornou-se mais rico com a ressurreição desta palavra. É claro que a conhecia, mas ao tempo que não a ouvia dita, materializada.
Diz-se que uma árvore está chumbando quando está muito carregada de frutos. Está chumbando porque está pesada como chumbo, penso que essa é a explicação. «A pereira ‘tá chumbando até ao chão!» É verdade, sim senhor. Está chumbando e ainda bem.
À entrada do terreiro dessa casa de antigamente existe uma enorme ameixeira de São João. Uma ameixeira igual à que havia em casa dos meus avolitos quando eu era pequena, e que era o nosso primeiro sinal do Verão.
Passámos lá e eu parei a olhar para as ameixas iguais às que guardo na memória. Fiquei parada a olhar para elas, e exclamei, feliz como a criança que fui: «Ameixas de São João, mãe!» O dono da casa estava por ali, à entrada do terreiro, e ouviu-me. Estendeu as mãos para a ameixeira, e começou a apanhar ameixas de São João e a passá-las para as minhas mãos em concha.
Agradeci da melhor forma que pude, com um sorriso, e continuámos o caminho. Dei o dia por ganho graças àquele punhado de ameixas, com o bico pintado de encarnado, algumas ainda verdes, com o gosto ácido e bom, igual ao gosto da minha infância, que trago tão bem guardado no coração.
No regresso, passando junto à mesma casa, voltámos a admirar a ameixeira de São João e novamente as mãos encardidas e enrugadas se apressaram a apanhar ameixas. Parámos a conversar. Indagámos por uma pessoa do lugar, madrinha de uma tia minha, e apontaram para uma casa em frente, enquanto nos davam informações sobre o seu estado de saúde. E convidaram-nos a entrar na humilde casa de palha, com o seu cheiro característico, uma cama a um canto e uma enorme caixa de madeira no outro.
Quando nos vínhamos embora, voltaram a dar-me algumas ameixas de São João. Foi então que falámos sobre a pereira, a tal pereira do cedo, com peras muito redondas, que cresce um pouco abaixo da ameixeira de São João, na continuação do caminho.
A minha mãe quis saber se era aquela qualidade de peras que antigamente se utilizava para fazer colares. As peras eram secas e depois enfiadas em forma de colar, para vender nos arraiais. Não. Os donos da pereira não conhecem esse costume.
Enquanto falávamos, admirámos a árvore à nossa frente. A pereira está carregada de frutos de cima a abaixo, os galhos vergando-se de tanto peso. «Ela ‘tá chumbando até ao chão!» – afirma, com orgulho, o dono da pereira. É verdade, a pereira está chumbando! O dia, que já estava ganho há muito, com as primeiras ameixas de São João que me deram, tornou-se mais rico com a ressurreição desta palavra. É claro que a conhecia, mas ao tempo que não a ouvia dita, materializada.
Diz-se que uma árvore está chumbando quando está muito carregada de frutos. Está chumbando porque está pesada como chumbo, penso que essa é a explicação. «A pereira ‘tá chumbando até ao chão!» É verdade, sim senhor. Está chumbando e ainda bem.
Comments:
<< Home
Olá!!
Não penses que deixei de visitar o teu blog...nada disso!! Hehe!
Gostei muito deste texto.
Mais uma expressão que desconhecia.
Beijinhos
Não penses que deixei de visitar o teu blog...nada disso!! Hehe!
Gostei muito deste texto.
Mais uma expressão que desconhecia.
Beijinhos
Realmente,lilia este teu bog é um manancial de expressões perdidas ou quase..tb me lembro de usarmos essa expressão na casa dos meus pais e avós qd uma arvore enchia de determinados frutos..está chumbando!!!
Ainda este ano saboreei essa expressão qd uma ameixieira existente no meu quintal q ainda mal tinha dado sinais da sua presença este ano se encheu de deliciosas e sumarentas ameixas amarelas..Ao deparar-me com um galho carregado de ameixas não resisti a ir aos resquicios da minha infancia e declarar triunfante:esta ameixieira esta chumbando!!!
Postar um comentário
Ainda este ano saboreei essa expressão qd uma ameixieira existente no meu quintal q ainda mal tinha dado sinais da sua presença este ano se encheu de deliciosas e sumarentas ameixas amarelas..Ao deparar-me com um galho carregado de ameixas não resisti a ir aos resquicios da minha infancia e declarar triunfante:esta ameixieira esta chumbando!!!
<< Home