quarta-feira, junho 15, 2005

"Quem vai adiante..."

"Quem vai adiante, leva o seu brilhante." "Quem vai no meio, leva Nosso Senhor no seio." "Quem vai atrás, leva o seu rapaz." Ouvi estas rimas hoje pela primeira vez. Eram rimas do tempo da minha mãe. Eu nunca as disse, tenho a certeza. Se as tivesse dito, lembrava-me. O mais próximo que me recordo de dizer era: "Quem vai ao mar, perde o seu lugar" ou, em alternativa, "Quem vai a São Martinho, perde o seu cantinho."
Enquanto decidiam quem ia à frente e quem ia atrás no meu carro, a minha mãe ou a minha tia, e depois entravam, a minha tia para a parte da frente, ao meu lado, e a minha mãe para a parte de trás, juntamente com a minha prima, a minha mãe repetiu as rimas da sua infância.
Primeiro exclamou para a minha tia, enquanto esta se ajeitava na parte da frente: "Quem vai adiante, leva o seu brilhante." E logo acrescentou, referindo-se a ela própria, que também ainda procurava ajeitar-se na parte de trás, "E quem vai atrás, leva o seu rapaz." Completou com a situação entremédia: "Quem vai ao meio, leva Nosso Senhor no seio." A minha tia demorou uns instantes a procurar na memória essas expressões mas depois lembrou-se e repetiu-as também, com um sorriso da cor da infância.
Eu, com a minha curiosidade: "Era só assim? Não havia mais nada? Havia alguma rima para "quem vai à frente..."? Não. Não havia nenhuma porque nesse tempo ninguém dizia à frente, mas sim adiante. "Minha mãe dizia tantas vezes, anda p'ra diante!"
Eu nunca disse estas rimas do tempo da minha mãe mas é como se as tivesse dito. As rimas do tempo da minha mãe são rimas minhas também porque o tempo todo é da minha mãe e a minha mãe é do tempo todo. A minha mãe é a própria eternidade.

Comments:
Olá Lília!
Bem, aprendi mais uma coisa nova. Hehe!
Beijinhos
 
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