segunda-feira, junho 13, 2005
Quando eu me precatei...
Quando eu me precatei, ela estava de branco vestida e com flores brancas no cabelo. Na primeira fila, cantava a mesma canção que eu cantei há trinta anos: "Anjos do Céu, que por amor inflamam...". Quando eu me precatei, daí a instantes, vi-a ser chamada para a primeira grande responsabilidade da cerimónia. Arregalei os olhos para as lágrimas não cairem quando a ouvi ler na perfeição todas as palavras difíceis da primeira leitura, do Livro do Êxodo. Leu sem hesitar, com voz segura e clara.
Passou tudo demasiado rápido. Quando eu me precatei, já ela estava na fila, à frente, para ir receber a primeira comunhão. E daí a pouco, quando eu me precatei, já ela estava a acender a vela do baptismo. Depois, vi-a correr em alvoroço para me saudar e de súbito desaparecer pela igreja à procura de outros familiares a quem queria cumprimentar. Quando eu me precatei já tinha terminado a primeira comunhão da minha menina.
Quando eu me precatei....Uso a expressão antiga para um sentimento que me parece sempre novo. O sentimento da descoberta de a ver crescer, de a ver cumprir rituais que assinalam etapas de vida, de a ver ultrapassar obstáculos, numa corrida em que o tempo não pára, mesmo que fiquemos imóveis tentando reter tudo, tentando fazê-lo parar, adormecido no silêncio da nossa respiração retida, sem som.
"Quando eu me precatei": quando eu dei por mim, quando eu me apercebi.
Tenho os olhos molhados e contentes, cheios da emoção de todos os dias. Levanta-te, esta roupa é bonita, sim senhora, claro que é, já lavaste os dentes?, despacha-te com o pequeno almoço, já tens a pasta da música?, hoje não poderei ir buscar-te à escola, vais para casa da avó, tira o cabelo dos olhos, que mania, de certeza que os deveres da escola estão todos feitos?, já viste duas novelas, não precisas ver a terceira, para a cama, não digo mais nenhuma vez, cama, está bem, hoje podes dormir na minha, boa noite, dorme bem.
Quando eu me precatei já passaram mais de nove anos dentro desta alegria de mãe. Quando eu me precatar mais anos terão passado. Por isso, eu arregalo os olhos e mantenho-os molhados, e vou vivendo na emoção das pequenas coisas de todos os dias e nas grandes coisas dos dias grandes como o de ontem, em que me precatei com ela de branco vestida, com flores brancas no cabelo, entoando a mesma canção que eu cantei no dia da minha Primeira Comunhão.
Passou tudo demasiado rápido. Quando eu me precatei, já ela estava na fila, à frente, para ir receber a primeira comunhão. E daí a pouco, quando eu me precatei, já ela estava a acender a vela do baptismo. Depois, vi-a correr em alvoroço para me saudar e de súbito desaparecer pela igreja à procura de outros familiares a quem queria cumprimentar. Quando eu me precatei já tinha terminado a primeira comunhão da minha menina.
Quando eu me precatei....Uso a expressão antiga para um sentimento que me parece sempre novo. O sentimento da descoberta de a ver crescer, de a ver cumprir rituais que assinalam etapas de vida, de a ver ultrapassar obstáculos, numa corrida em que o tempo não pára, mesmo que fiquemos imóveis tentando reter tudo, tentando fazê-lo parar, adormecido no silêncio da nossa respiração retida, sem som.
"Quando eu me precatei": quando eu dei por mim, quando eu me apercebi.
Tenho os olhos molhados e contentes, cheios da emoção de todos os dias. Levanta-te, esta roupa é bonita, sim senhora, claro que é, já lavaste os dentes?, despacha-te com o pequeno almoço, já tens a pasta da música?, hoje não poderei ir buscar-te à escola, vais para casa da avó, tira o cabelo dos olhos, que mania, de certeza que os deveres da escola estão todos feitos?, já viste duas novelas, não precisas ver a terceira, para a cama, não digo mais nenhuma vez, cama, está bem, hoje podes dormir na minha, boa noite, dorme bem.
Quando eu me precatei já passaram mais de nove anos dentro desta alegria de mãe. Quando eu me precatar mais anos terão passado. Por isso, eu arregalo os olhos e mantenho-os molhados, e vou vivendo na emoção das pequenas coisas de todos os dias e nas grandes coisas dos dias grandes como o de ontem, em que me precatei com ela de branco vestida, com flores brancas no cabelo, entoando a mesma canção que eu cantei no dia da minha Primeira Comunhão.
Comments:
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pois ... eu também quando me «precatei»já eram quase dez da noite ... e já a «mai velha» espreita pela porta do quarto a ver quando decido sair deste blog para ela ir ás modernices de agora...msn...pronto,pronto já vouuu...
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