sábado, abril 09, 2005
Uma Peta Xiribeta
Esta memória surge aqui com atraso, com é próprio de algumas memórias. Mas esta está atrasada apenas porque no dia 1 de Abril, Dia das Petas, eu estava num local sem acesso à internet e a este cantinho que vou construindo com palavras e recordações.
Penso que esta será a única tradição de que não gosto, porque a mentira não faz parte da minha forma de ser. Acho até que quanto mais pequenas são as mentiras e os enganos, mais conseguem mexer-me com os nervos.
Na infância dizíamos: "É uma Peta Xiribeta, lá do fundo da gaveta". Repetíamos o refrão, vitoriosas, quando algum adulto fingia acreditar nas nossas petas inocentes, pensadas e repensadas, porque aquele dia também tinha de ser assinalado, tal como as outras datas do calendário. Lembro-me do quanto era difícil arranjar uma boa peta.
Quando muito, podíamos ir a casa dos meus avolitos ou dos meus tios e dizer-lhes que a minha mãe precisava de falar-lhes ou vice-versa. Uma peta tão sem imaginação! A criatividade é essencial à vida, mas orgulho-me desta nossa falta de imaginação quando uma data nos obrigava a arranjar petas.
Este ano, nem sequer me lembrava que era dia das petas e um amigo mandou-me uma mensagem a perguntar se já me tinham dado alguma. Reagi de uma forma exagerada, dizendo o quanto não gostava desta tradição. Devo tê-lo até assustado, afinal era uma simples pergunta sobre um dia que continua a ser comemorado.
Durante o resto do dia pensei no quanto seria bom se as petas só se dissessem num único dia do ano. Se no Dia das Petas as pessoas passassem o dia a mentir e não mentissem em mais nenhum dia do ano, o mundo ficaria a ganhar muito em matéria de verdade. Mas nesse dia, tinha de ser obrigatório repetir logo a seguir à peta, sem deixar passar mais do que um minuto, a fórmula apropriada: "É uma Peta Xiribeta lá do fundo da gaveta."
Foi assim pensando que me lembrei de dizer à minha menina que naquele dia, naquele único dia, que ficasse bem claro, ela podia dar uma peta, e depois não dava petas em mais nenhum dia do ano. Estávamos em Lisboa, junto aos Jerónimos. Passei-lhe o telemóvel e ela ligou à avó, dizendo: "Estou perdida. Não sei onde está a minha mãe." Ria com a cara toda e com os olhos, mas fez como lhe recomendei: não deixou passar nem dez segundos. Gritou logo a fórmula: "É uma Peta Xiribeta lá do fundo da gaveta."
Peço desculpa à pessoa que me lembrou ser o Dia das Petas. Faz sentido, sim senhor. Vamos todos guardar as petas para esse dia. Mas não se esqueçam da fórmula, para que as petas fiquem bem identificadas. "É uma Peta Xiribeta lá do fundo da gaveta."
Penso que esta será a única tradição de que não gosto, porque a mentira não faz parte da minha forma de ser. Acho até que quanto mais pequenas são as mentiras e os enganos, mais conseguem mexer-me com os nervos.
Na infância dizíamos: "É uma Peta Xiribeta, lá do fundo da gaveta". Repetíamos o refrão, vitoriosas, quando algum adulto fingia acreditar nas nossas petas inocentes, pensadas e repensadas, porque aquele dia também tinha de ser assinalado, tal como as outras datas do calendário. Lembro-me do quanto era difícil arranjar uma boa peta.
Quando muito, podíamos ir a casa dos meus avolitos ou dos meus tios e dizer-lhes que a minha mãe precisava de falar-lhes ou vice-versa. Uma peta tão sem imaginação! A criatividade é essencial à vida, mas orgulho-me desta nossa falta de imaginação quando uma data nos obrigava a arranjar petas.
Este ano, nem sequer me lembrava que era dia das petas e um amigo mandou-me uma mensagem a perguntar se já me tinham dado alguma. Reagi de uma forma exagerada, dizendo o quanto não gostava desta tradição. Devo tê-lo até assustado, afinal era uma simples pergunta sobre um dia que continua a ser comemorado.
Durante o resto do dia pensei no quanto seria bom se as petas só se dissessem num único dia do ano. Se no Dia das Petas as pessoas passassem o dia a mentir e não mentissem em mais nenhum dia do ano, o mundo ficaria a ganhar muito em matéria de verdade. Mas nesse dia, tinha de ser obrigatório repetir logo a seguir à peta, sem deixar passar mais do que um minuto, a fórmula apropriada: "É uma Peta Xiribeta lá do fundo da gaveta."
Foi assim pensando que me lembrei de dizer à minha menina que naquele dia, naquele único dia, que ficasse bem claro, ela podia dar uma peta, e depois não dava petas em mais nenhum dia do ano. Estávamos em Lisboa, junto aos Jerónimos. Passei-lhe o telemóvel e ela ligou à avó, dizendo: "Estou perdida. Não sei onde está a minha mãe." Ria com a cara toda e com os olhos, mas fez como lhe recomendei: não deixou passar nem dez segundos. Gritou logo a fórmula: "É uma Peta Xiribeta lá do fundo da gaveta."
Peço desculpa à pessoa que me lembrou ser o Dia das Petas. Faz sentido, sim senhor. Vamos todos guardar as petas para esse dia. Mas não se esqueçam da fórmula, para que as petas fiquem bem identificadas. "É uma Peta Xiribeta lá do fundo da gaveta."
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