sábado, fevereiro 12, 2005
O Merlata
Ainda lhe sinto a falta, aos domingos, à saída da missa. Durante toda a minha infância, adolescência e juventude, o Merlata estava à espera que as pessoas saíssem da missa, num ponto estratégico do caminho, junto ao cesto dos tremoços.
O Merlata vendia tremoços à saída das missas de domingo, esse era um dos seus dois meios de vida. Sempre me pareceu já velhote, mas no início não deveria ter toda a idade que aparentava. Talvez eu tenha ficado com essa ideia porque ele andava de forma trôpega, e também não conseguia articular bem as palavras. Não sei se foi por isso que lhe puseram aquela alcunha, tão difícil de desvendar. Toda a gente tinha alcunhas, algumas delas não me atrevo sequer a dizer, mas na maioria dos casos eram coisas que se conseguiam perceber, que tinham uma explicação. No caso do Merlata, nunca percebi a origem da alcunha, ou apelido, como então se dizia. Quem sabe tenha sido a forma de pronunciar alguma palavra, bastava um facto tão simples para pôr um "apelido" em alguém.
Depois de ter vendido todos os tremoços possíveis, o Merlata colocava o cesto às costas e percorria a vereda, no regresso a casa, como se fosse cair a cada passo que dava. Da imagem dele já fazia parte aquele cesto de vimes com o resto dos tremoços. Nunca vi o Merlata sem esse prolongamento, ou sem o outro, que era o segundo ganha-pão: um bode.
O Merlata tinha um bode, e vivia também de levá-lo às cabras na altura certa, para que resultasse criação. O bode do Merlata foi pai de todos os cabritos e cabritas do sítio e até de outras freguesias, pois lembro-me de o ver passar com o bode amarrado por uma corda, a caminho da Camacha. Descia a vereda, com os passos muito incertos e normalmente vinha a falar. Olhávamos e afinal não vinha mais ninguém no caminho. O Merlata falava com o bode, a quem pusera o nome de Joaquim, mas que chamava Jaquim ou Jóquim, como toda a gente. Mesmo tratando-se de uma pessoa, os joaquins eram todos chamados de uma forma ou de outra, viviam e morriam sem nunca ouvirem o seu nome pronunciado com todas as letras.
Aquintrodia (não resisto a usar esta palavra, embore conte um dia dar-lhe mais destaque), algures entre São Jorge e Santana, à beira da estrada, vi um homem de camisa enquartada e barrete de orelhas, segurando uma cabra por uma corda. Talvez a "levasse a passeio" pois era assim que ouvia dizer quando era a cabra que era levada até a casa de alguém que fosse dono de um bode, para resolver o problema da criação. Lembrei-me do Merlata, tal como me lembro aos domingos, à saída da missa.
O Merlata vendia tremoços à saída das missas de domingo, esse era um dos seus dois meios de vida. Sempre me pareceu já velhote, mas no início não deveria ter toda a idade que aparentava. Talvez eu tenha ficado com essa ideia porque ele andava de forma trôpega, e também não conseguia articular bem as palavras. Não sei se foi por isso que lhe puseram aquela alcunha, tão difícil de desvendar. Toda a gente tinha alcunhas, algumas delas não me atrevo sequer a dizer, mas na maioria dos casos eram coisas que se conseguiam perceber, que tinham uma explicação. No caso do Merlata, nunca percebi a origem da alcunha, ou apelido, como então se dizia. Quem sabe tenha sido a forma de pronunciar alguma palavra, bastava um facto tão simples para pôr um "apelido" em alguém.
Depois de ter vendido todos os tremoços possíveis, o Merlata colocava o cesto às costas e percorria a vereda, no regresso a casa, como se fosse cair a cada passo que dava. Da imagem dele já fazia parte aquele cesto de vimes com o resto dos tremoços. Nunca vi o Merlata sem esse prolongamento, ou sem o outro, que era o segundo ganha-pão: um bode.
O Merlata tinha um bode, e vivia também de levá-lo às cabras na altura certa, para que resultasse criação. O bode do Merlata foi pai de todos os cabritos e cabritas do sítio e até de outras freguesias, pois lembro-me de o ver passar com o bode amarrado por uma corda, a caminho da Camacha. Descia a vereda, com os passos muito incertos e normalmente vinha a falar. Olhávamos e afinal não vinha mais ninguém no caminho. O Merlata falava com o bode, a quem pusera o nome de Joaquim, mas que chamava Jaquim ou Jóquim, como toda a gente. Mesmo tratando-se de uma pessoa, os joaquins eram todos chamados de uma forma ou de outra, viviam e morriam sem nunca ouvirem o seu nome pronunciado com todas as letras.
Aquintrodia (não resisto a usar esta palavra, embore conte um dia dar-lhe mais destaque), algures entre São Jorge e Santana, à beira da estrada, vi um homem de camisa enquartada e barrete de orelhas, segurando uma cabra por uma corda. Talvez a "levasse a passeio" pois era assim que ouvia dizer quando era a cabra que era levada até a casa de alguém que fosse dono de um bode, para resolver o problema da criação. Lembrei-me do Merlata, tal como me lembro aos domingos, à saída da missa.
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