sábado, fevereiro 26, 2005
Nevoeiro, nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro
"Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro." A fórmula mágica para afastar o nevoeiro não se dizia de qualquer maneira. Não chegava a ser cantada mas também não era apenas dita. "Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
Era mais um pedido do que uma ordem, isso de certeza. Mas não bastava dizer. Era preciso que a nossa voz tivesse um tom de quem chama, um pouco alto mas não em demasia. E esse chamamento devia prolongar-se no ar, demorando-se no ditongo "ei". A nossa voz devia emitir uma espécie de eco, para conseguir chegar ao nevoeiro e para que este lhe obedecesse.
A voz devia, sobretudo, adquirir um tom encantatório, combinando com o aspecto de todas as coisas, quando cobertas de nevoeiro. "Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
De todos os elementos da natureza, o nevoeiro foi o mais intrigante da minha infância, talvez só comparado ao sereno, esse ser misterioso que cobria de uma camada fina as vidraças de todas as janelas, onde escrevíamos pela manhã.
O nevoeiro estava ali e não estava; viamo-lo, mas não conseguíamos tocar-lhe. Tentávamos apanhá-lo, guardando um bocadinho dele dentro das mãos fechadas. Quando as abríamos estavam vazias mas o nevoeiro continuava a envolver-nos, como antes. "Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
Corríamos por entre o nevoeiro, repetindo a fórmula mágica, no tom exacto em que a tínhamos aprendido, mas não me lembro se alguma vez acreditei realmente que o nevoeiro fosse embora graças a ela. Recordo as palavras alongadas, o eco que ficava suspenso no ar, a promessa de um bolo e de um brindeiro. Essa recordação está a ser a alegria deste dia, que amanheceu e continua envolto em nevoeiro.
"Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
Era mais um pedido do que uma ordem, isso de certeza. Mas não bastava dizer. Era preciso que a nossa voz tivesse um tom de quem chama, um pouco alto mas não em demasia. E esse chamamento devia prolongar-se no ar, demorando-se no ditongo "ei". A nossa voz devia emitir uma espécie de eco, para conseguir chegar ao nevoeiro e para que este lhe obedecesse.
A voz devia, sobretudo, adquirir um tom encantatório, combinando com o aspecto de todas as coisas, quando cobertas de nevoeiro. "Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
De todos os elementos da natureza, o nevoeiro foi o mais intrigante da minha infância, talvez só comparado ao sereno, esse ser misterioso que cobria de uma camada fina as vidraças de todas as janelas, onde escrevíamos pela manhã.
O nevoeiro estava ali e não estava; viamo-lo, mas não conseguíamos tocar-lhe. Tentávamos apanhá-lo, guardando um bocadinho dele dentro das mãos fechadas. Quando as abríamos estavam vazias mas o nevoeiro continuava a envolver-nos, como antes. "Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
Corríamos por entre o nevoeiro, repetindo a fórmula mágica, no tom exacto em que a tínhamos aprendido, mas não me lembro se alguma vez acreditei realmente que o nevoeiro fosse embora graças a ela. Recordo as palavras alongadas, o eco que ficava suspenso no ar, a promessa de um bolo e de um brindeiro. Essa recordação está a ser a alegria deste dia, que amanheceu e continua envolto em nevoeiro.
"Nevoeiro, Nevoeiro, vai p'ra trás do teu palheiro, que hoje faço-te um bolo e amanhã faço um brindeiro."
Comments:
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Olá Lilia,
No Santo o ditado era um pedacinho diferente. Lembro-me eu e os meus primos furibundos por estar frio, chuva e nevoeiro a gritar "Mevoeiro, nevoeiro vai para o fundo do teu ribeiro..." O retso não me lembro bem mas acho que nunca funcionou bem.
Paulo
No Santo o ditado era um pedacinho diferente. Lembro-me eu e os meus primos furibundos por estar frio, chuva e nevoeiro a gritar "Mevoeiro, nevoeiro vai para o fundo do teu ribeiro..." O retso não me lembro bem mas acho que nunca funcionou bem.
Paulo
Certamente já ouviu a canção do nevoeiro do grupo folclórico do Porto da Cruz, que reza assim (irei escrever tal qual é pronunciado):
Navoeiro, navoeiro
Vai p'a trás do teu palheiro
Que está lá teu pai cordeiro
Com um pau de marmeleiro
P'a te aquecer ("acacer") o pandeiro
Navoeiro, navoeiro
Penso que seja uma ameaça velada para o nevoeiro ir embora, caso contrário leva de pau de marmaleiro.
Melhores cumprimentos
Henrique Freitas
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Navoeiro, navoeiro
Vai p'a trás do teu palheiro
Que está lá teu pai cordeiro
Com um pau de marmeleiro
P'a te aquecer ("acacer") o pandeiro
Navoeiro, navoeiro
Penso que seja uma ameaça velada para o nevoeiro ir embora, caso contrário leva de pau de marmaleiro.
Melhores cumprimentos
Henrique Freitas
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