domingo, fevereiro 20, 2005
Figos e beiços rebentados
"Uns comem os figos, outros rebentam-lhes os beiços". Ouvi esta expressão hoje de manhã e achei deliciosa a metáfora, com um sentido parecido ao de "fama sem proveito", mas muito mais criativa, sem a menor dúvida.
Foi no Caniço, no meio de uma conversa a propósito de eleições. Alguém comparava a cobertura da campanha eleitoral pela comunicação social da Madeira e do Continente. O homem afirmava: "Fartam-se de dizer que na Madeira é tudo controlado pelo Governo mas aqui todos os partidos foram tratados por igual. Lá, no continente, foi uma vergonha." A conclusão do raciocínio veio a seguir: "Uns comem os figos, outros rebentam-lhes os beiços."
Eu já conhecia a expressão, mas estava totalmente esquecida, até porque na parte do Caniço mais a norte, onde nasci e cresci, nunca houve muitas figueiras. As figueiras, tal como as tabaibeiras, dão-se melhor nas zonas mais à beira-mar, no Caniço de Baixo.
Lembro-me de os meus avós e tios irem visitar pessoas ao Caniço de Baixo, levando ameixas ou peras, no tempo delas, para trazer, na volta, figos ou tabaibos. Aquilo que não temos é sempre mais apreciado, tem um sabor mais apetecível. Às vezes as visitas eram ao contrário e era essa família amiga que ia visitar a minha, levando num cesto figos ou tabaibos. Adorava vê-los chegar com esses frutos exóticos. Levavam bêberas, tanto das brancas como das pretas, estas alongadas, e os figos, que têm a forma redonda.
A verdade é que algumas espécies de figos, e no geral todos quando não estão ainda bem maduros, deixam os lábios ásperos. A sabedoria popular diz que "rebentam os beiços".
Lembro-me muito bem de ouvir e também usar a palavra beiços em vez de lábios e da forma depreciativa como se falava de alguma rapariga que se atrevesse a "pintar os beiços." A minha avó dava como garantido que fazê-lo representava uma espécie de pacto com o diabo e contava a história de uma rapariga que tinha por hábito pintar os beiços e as unhas e quando morreu, estando na écia, entrou alguém desconhecido que a pintou toda (A conclusão era que devia ser o diabo).
"Uns comem os figos, outros rebentam-lhes os beiços". Uns fazem as coisas, outros ficam com a fama de as terem feito. De todas as expressões populares, é talvez das mais engraçadas. Quem a inventou e muito provavelmente a pessoa de quem hoje a ouvi, nunca soube o que é uma metáfora. Mas que interessa isso? O resultado, que é esta mestria na arte de comparar, é que interessa realmente.
Foi no Caniço, no meio de uma conversa a propósito de eleições. Alguém comparava a cobertura da campanha eleitoral pela comunicação social da Madeira e do Continente. O homem afirmava: "Fartam-se de dizer que na Madeira é tudo controlado pelo Governo mas aqui todos os partidos foram tratados por igual. Lá, no continente, foi uma vergonha." A conclusão do raciocínio veio a seguir: "Uns comem os figos, outros rebentam-lhes os beiços."
Eu já conhecia a expressão, mas estava totalmente esquecida, até porque na parte do Caniço mais a norte, onde nasci e cresci, nunca houve muitas figueiras. As figueiras, tal como as tabaibeiras, dão-se melhor nas zonas mais à beira-mar, no Caniço de Baixo.
Lembro-me de os meus avós e tios irem visitar pessoas ao Caniço de Baixo, levando ameixas ou peras, no tempo delas, para trazer, na volta, figos ou tabaibos. Aquilo que não temos é sempre mais apreciado, tem um sabor mais apetecível. Às vezes as visitas eram ao contrário e era essa família amiga que ia visitar a minha, levando num cesto figos ou tabaibos. Adorava vê-los chegar com esses frutos exóticos. Levavam bêberas, tanto das brancas como das pretas, estas alongadas, e os figos, que têm a forma redonda.
A verdade é que algumas espécies de figos, e no geral todos quando não estão ainda bem maduros, deixam os lábios ásperos. A sabedoria popular diz que "rebentam os beiços".
Lembro-me muito bem de ouvir e também usar a palavra beiços em vez de lábios e da forma depreciativa como se falava de alguma rapariga que se atrevesse a "pintar os beiços." A minha avó dava como garantido que fazê-lo representava uma espécie de pacto com o diabo e contava a história de uma rapariga que tinha por hábito pintar os beiços e as unhas e quando morreu, estando na écia, entrou alguém desconhecido que a pintou toda (A conclusão era que devia ser o diabo).
"Uns comem os figos, outros rebentam-lhes os beiços". Uns fazem as coisas, outros ficam com a fama de as terem feito. De todas as expressões populares, é talvez das mais engraçadas. Quem a inventou e muito provavelmente a pessoa de quem hoje a ouvi, nunca soube o que é uma metáfora. Mas que interessa isso? O resultado, que é esta mestria na arte de comparar, é que interessa realmente.
Comments:
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A sabedoria popular consegue na criacção de aforismos, desenvolver verdadeiras figuras de estilo. E eu não conhecia. Curiosamente a minha vida mudou, e agora sou residente no Caniço, mas não troco peras, bêberas ou tabaibos por outros géneros quaisquer. Viver num apartamento aproxima as pessoas fisicamente, mas afasta-as do coração. O Caniço tem apenas resquícios de ruralidade, e a Madeira caminha nesse sentido. Isso preocupa-me, pois ruralidade não é sinónimo de sub-desenvolvimento.
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