segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Balamento
"Balamento!" Estava meio adormecida ainda e pensei que talvez estivesse a sonhar. Mas não. Este balamento foi dado hoje, manhã bem cedo, pela minha menina. Do outro lado do telefone estava a minha mãe. Falta ainda um mês para o dia de Páscoa e elas já combinaram o balamento: quem perder compra à outra um ovo kinder dos grandes e uma garrafa de brisa maracujá!
Todos os anos, elas jogam as duas ao balamento, adaptando o jogo aos tempos modernos. "Vale por telefone, não vale?" "Vale, sim senhora." Afinal, são os dois jogadores que estabelecem as regras, ninguém tem nada a ver com isso.
O ano passado, assim que acordava, pegava no telefone para ligar à avó. A determinada altura, a minha mãe começou a atender o telefone, fosse a que horas fosse, sem importar quem estava do outro lado, com a palavra de código: "balamento". Passou algumas vergonhas, mas mais importante do que isso era o facto de estar a jogar ao balamento com a neta.
A miúda percebeu que tinha de arquitectar um plano. Um belo dia, manhã cedo, disse-me: "Mãe, eu vou ligar mas não digo nada. Se a avó der o balamento, eu passo para ti e tu finges que não sabes de nada, falas de outro assunto. Se ela não se lembrar e atender normalmente eu dou-lhe o balamento." Está bem. Ajudei uma ou duas vezes e já não me lembro quem ganhou.
Na verdade, acho que ganhámos todas. Eu ganhei a alegria de as ver assim, empenhadas no jogo e contentes. Ganhei também o regresso nostálgico a todos os balamentos da minha infância.
E voltei a ouvir histórias de balamentos antigos, como a de uma tia minha que jogou com uma vizinha, filha de Ti Carolina. Logo de manhã, conta-se, a minha tia empoleirou-se num pinheiro, em frente da casa dela. O pinheiro tinha vista para o quarto das raparigas, no primeiro andar da casa de pedra, e a minha tia assistiu à troca de roupa entre a sua adversária e outra irmã, para a despistar. Assistiu a tudo do seu posto, em cima do pinheiro. Quando a outra saiu à rua, para varrer o terreiro, disfarçada com a roupa da irmã, a minha tia deu-lhe o balamento e ganhou, porque esse era um dia decisivo, do desempate final.
As pessoas eram capazes das coisas mais incríveis para ganhar um balamento. Mudavam de caminho, metiam por pinheiros e matos, faziam esperas nos locais de passagem, empoleiravam-se em árvores e pediam roupas emprestadas. E tudo por um pacote de amêndoas, um saco de figos passados e talvez uns tostões de amendoins.
Temos pela frente um mês inteiro deste jogo antigo, espécie de gato e rato, de jogo de se esconder, em que basta, cada dia, conseguir ser o primeiro a dizer ao outro a palavra mágica.
Quem quer jogar comigo ao balamento?
Todos os anos, elas jogam as duas ao balamento, adaptando o jogo aos tempos modernos. "Vale por telefone, não vale?" "Vale, sim senhora." Afinal, são os dois jogadores que estabelecem as regras, ninguém tem nada a ver com isso.
O ano passado, assim que acordava, pegava no telefone para ligar à avó. A determinada altura, a minha mãe começou a atender o telefone, fosse a que horas fosse, sem importar quem estava do outro lado, com a palavra de código: "balamento". Passou algumas vergonhas, mas mais importante do que isso era o facto de estar a jogar ao balamento com a neta.
A miúda percebeu que tinha de arquitectar um plano. Um belo dia, manhã cedo, disse-me: "Mãe, eu vou ligar mas não digo nada. Se a avó der o balamento, eu passo para ti e tu finges que não sabes de nada, falas de outro assunto. Se ela não se lembrar e atender normalmente eu dou-lhe o balamento." Está bem. Ajudei uma ou duas vezes e já não me lembro quem ganhou.
Na verdade, acho que ganhámos todas. Eu ganhei a alegria de as ver assim, empenhadas no jogo e contentes. Ganhei também o regresso nostálgico a todos os balamentos da minha infância.
E voltei a ouvir histórias de balamentos antigos, como a de uma tia minha que jogou com uma vizinha, filha de Ti Carolina. Logo de manhã, conta-se, a minha tia empoleirou-se num pinheiro, em frente da casa dela. O pinheiro tinha vista para o quarto das raparigas, no primeiro andar da casa de pedra, e a minha tia assistiu à troca de roupa entre a sua adversária e outra irmã, para a despistar. Assistiu a tudo do seu posto, em cima do pinheiro. Quando a outra saiu à rua, para varrer o terreiro, disfarçada com a roupa da irmã, a minha tia deu-lhe o balamento e ganhou, porque esse era um dia decisivo, do desempate final.
As pessoas eram capazes das coisas mais incríveis para ganhar um balamento. Mudavam de caminho, metiam por pinheiros e matos, faziam esperas nos locais de passagem, empoleiravam-se em árvores e pediam roupas emprestadas. E tudo por um pacote de amêndoas, um saco de figos passados e talvez uns tostões de amendoins.
Temos pela frente um mês inteiro deste jogo antigo, espécie de gato e rato, de jogo de se esconder, em que basta, cada dia, conseguir ser o primeiro a dizer ao outro a palavra mágica.
Quem quer jogar comigo ao balamento?
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É com muito prazer que descubro este blog. Outro dia escrevi um post acerca do balamento influenciada pelas "Histórias do Bertoldinho". Eu jogo! :)
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