segunda-feira, janeiro 31, 2005

Quanto custa a cabrinha?

Lembro-me desta expressão quase todos os dias quando, depois de ler os jornais, me demoro nas páginas dos anúncios, lendo descrições e preços de casas.
Antes demorava-me só nas casas, mesmo casas, com quintal onde pudesse ter todos os meus vasos de flores e um jardim selvagem como o que tinha antes. Com o tempo, comecei a demorar os olhos também nos apartamentos com três quartos, onde pudesse voltar a ter "o quarto dos livros", como já tive.
Depois fecho os jornais e, com um sorriso leve, lembro-me da expressão do Ti Noé, que ouço desde criança e ainda há poucos dias a minha mãe usou, numa conversa telefónica com a minha tia que está na Austrália.
"Quanto custa a cabrinha?" A frase é atribuídda ao Ti Noé, que tinha o jeito de perguntar o preço de tudo, mesmo sem ter um tostão no bolso. Conta-se que um dia, com apenas dois mil e quinhentos na algibeira, cruzou-se com um homem que levava uma cabra e perguntou-lhe: "Quanto custa a cabrinha?" O Ti Noé não tinha a mínima possibilidade de a comprar mas perguntou o preço.
A história correu como corriam todas as histórias no tempo em que não havia televisão, nem livros, nem computadores, nem cinema, nem mais nada com que as pessoas se pudessem entreter.
Talvez o Ti Noé nunca tivesse sequer perguntado o preço de uma cabrinha. Depois de alguém se ter apercebido desse seu hábito de perguntar pelo preços de coisas que não podia comprar, é bem possível que tenha sido acrescentada a história da cabrinha, para tornar mais valioso o objecto, e, consequentemente, mais indicada a expressão para ser aplicada com propriedade em casos como o meu.
"Quanto custa a cabrinha?" Fecho as últimas páginas do jornal e sorrio para dentro. Está na hora de voltar à realidade.






Comments:
That's a great story. Waiting for more. »
 
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