sábado, janeiro 01, 2005

Ir ver dar meia noite

Lembro-me do tempo em que não íamos ver o fogo de artifício da Noite de São Silvestre. Limitávamo-nos a ouvir contar sobre a aventura de "ir ver dar meia-noite" e a imaginar como seria. Ouvíamos falar sobre longas caminhadas a pé para ir "ver dar meia-noite", em especial a São Roque, onde os meus avós maternos tinham familiares. Ouvíamos esses relatos com a mesma curiosidade com que ouvíamos as histórias da minha avó: de gigantes, de feiticeiras, do menino que tinha uma estrelinha na testa, ou da menina que se transformava em pomba porque uma preta malvada lhe tinha metido um alfinete na cabeça.
Nessa altura, o espectáculo de fogo de artifício não tinha nada a ver com o de hoje em dia, nem sequer se pode dizer que não lhe chegava aos calcanhares. Mas "ir ver dar meia-noite" tinha uma tal magia e um tal mistério! Tinha a importância de tudo o que é desconhecido e parece impossível.
Um dia chegou também a nossa vez. Tanto pedimos à minha mãe, que ela se predispôs a ir connosco "ver dar meia-noite", a pé. Ainda ponderámos ir até ao Lombo da Quinta, para lá do Palheiro ferreiro, mas acabámos por ir às Neves, bem para lá das Figueirinhas, seguindo pela antiga estrada do aeroporto. Foi uma conquista. Já pertencíamos ao mundo dos abençoados que sabiam o que era "ver dá meia noite" (era assim que me soava).
Agora vamos sempre. Vamos de carro. E o que vemos é o fogo de artifício, o espectáculo de fim-de-ano. Nunca mais dissemos: "Vamos ver dar meia-noite". Mas eu gosto mais dessa forma de dizer. Parece uma frase saída das histórias da minha avolita.





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