quarta-feira, janeiro 26, 2005

Eu não matei o pintainho

"Eu não matei o pintainho". Esta expressão pertence a uma espécie de código privado, que só é entendido por elementos da minha família ou alguns vizinhos e amigos chegados. É a forma que usamos para nos acusarmos a nós proprios de algum erro cometido: "Eu não matei o pintainho". O responsável pelo nascimento deste dito familiar foi o meu tio João, o mais novo irmão da minha mãe.
O tio João era imaginativo e aventureiro, a curiosidade em pessoa. Estava sempre a inventar. A história que deu à luz esta expressão, aconteceu num dia em que não estava mais ninguém em casa, ou talvez estivesse uma tia, empenhada em terminar algum bordado com pressa. O meu avô devia ter ido para o trabalho nos pinheiros, a minha avó a casa dos pais nalguma volta importante, a minha mãe talvez tivesse ido com o comer. Enfim, ele apanhou-se sozinho e decidiu explorar a forma de vida de uma ninhada de pintos, que andava pelo quintal atrás da galinha, debicando folhas de couve e restos de comida. Curioso, foi-lhes seguindo os passos e a certa altura decidiu ajudar um dos pintos a beber água, do bocado de folha destinado a esse fim. Apertou-o na mão, meteu-lhe o bico na água e só o retirou quando pensou que ele tinha bebido o suficiente. O pintainho estava morto, coitado.
Assim que os adultos chegaram a casa, vinham ainda no canto de terreiro, o tio João disse-lhes: "Eu não matei o pintainho", denunciando-se ainda antes de alguém ter reparado no pobrezinho do bicho, morto ao lado do recipiente da água.

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