quarta-feira, janeiro 26, 2005
Deu-me uma reina
Estava no Porto Santo, a fazer tempo, vendo sem realmente ver produtos espalhados numa loja, quando ouvi sem querer parte de uma conversa entre duas mulheres, uma por dentro do balcão, a outra por fora, no lugar de freguesa. "Deu-lhe uma reina!" Do episódio que comentavam, e que não me lembro qual era, esta foi a frase que me chamou a atenção. Daí a pouco, a mulher repetiu, no seguimento da história: "Ele reinou!"
Dei por bem empregue o tempo que ali passei sem fazer nada, só a olhar para coisas que não me interessavam. Ao tempo que não ouvia aquela palavra! "Deu-lhe uma reina". "Ele reinou". Sorri sozinha e saí contente da loja, deixando-as com os restantes pormenores do episódio. Em criança, esses eram os termos que utilizava quando queria dizer zangar-se ou chatear-se. Gostei de saber que alguém ainda usa essas palavras, mesmo que seja um pouco longe de mim, na outra ilha.
Ontem foi a minha vez de reinar. E que reina me deu! O motivo foi uma birra da minha filha, daquelas que não sabemos como controlar, porque também temos a nossa parte de culpa. Entre a urgência de acabar com a cena, e a tendência do coração de querer consolá-la, porque fui eu que lhe estraguei, sem querer, a prisão de cabelo preferida, vi-me dominada por uma reina. Reinei com ela. Reinei e coloquei-a de castigo porque estava farta de explicar-lhe que não foi de propósito e de prometer-lhe que lhe compraria outra, o mais parecida possível, acaso já não houvesse na loja nenhuma exactamente igual, mas ela não me ouvia sequer e continuava a chorar aquela perda, como se tivesse perdido a coisa mais importante do mundo. Mas que reina!
Reinei e de que maneira! Tive a oportunidade de usar a velha palavra tão comum nos dias da infância. Preferia, no entanto, ter-me ficado pela memória leve trazida pelos pedacinhos de história que ouvi sem querer numa loja do Porto Santo, enquanto olhava para coisas amontoadas em prateleiras, só para fazer tempo.
Dei por bem empregue o tempo que ali passei sem fazer nada, só a olhar para coisas que não me interessavam. Ao tempo que não ouvia aquela palavra! "Deu-lhe uma reina". "Ele reinou". Sorri sozinha e saí contente da loja, deixando-as com os restantes pormenores do episódio. Em criança, esses eram os termos que utilizava quando queria dizer zangar-se ou chatear-se. Gostei de saber que alguém ainda usa essas palavras, mesmo que seja um pouco longe de mim, na outra ilha.
Ontem foi a minha vez de reinar. E que reina me deu! O motivo foi uma birra da minha filha, daquelas que não sabemos como controlar, porque também temos a nossa parte de culpa. Entre a urgência de acabar com a cena, e a tendência do coração de querer consolá-la, porque fui eu que lhe estraguei, sem querer, a prisão de cabelo preferida, vi-me dominada por uma reina. Reinei com ela. Reinei e coloquei-a de castigo porque estava farta de explicar-lhe que não foi de propósito e de prometer-lhe que lhe compraria outra, o mais parecida possível, acaso já não houvesse na loja nenhuma exactamente igual, mas ela não me ouvia sequer e continuava a chorar aquela perda, como se tivesse perdido a coisa mais importante do mundo. Mas que reina!
Reinei e de que maneira! Tive a oportunidade de usar a velha palavra tão comum nos dias da infância. Preferia, no entanto, ter-me ficado pela memória leve trazida pelos pedacinhos de história que ouvi sem querer numa loja do Porto Santo, enquanto olhava para coisas amontoadas em prateleiras, só para fazer tempo.