terça-feira, janeiro 25, 2005
Apilhagem
"Hoje brincámos às apanhadas no recreio!" Vinha ainda a arfar e com o rosto muito vermelho, de tanta correria. "Apanhadas?" Não consegui evitar dizer o nome do jogo, que deve ser dos jogos mais antigos do mundo, e que todas as crianças do mundo devem conhecer, de tão elementares as regras, dando-lhe um tom interrogativo. "É claro que sei qual é o jogo das apanhadas, filha. Mas no meu tempo chamava-se jogo da apilhagem."
"Apilhagem?" Agora foi a vez de ela repetir esta palavra num tom interrogativo, mas que mostrava sobretudo estranheza. "Apilhagem, mãe? Chamavas apilhagem ao jogo das apanhadas?" É verdade. Eu nunca brinquei às apanhadas, mas fartei-me de brincar à apilhagem. Expliquei-lhe que apilhagem vem de apilhar, que significa agarrar, apanhar de surpresa, alcançar, enfim, aquilo que de facto se faz no jogo.
"Não me apilhas, não me apilhas, não me apilhas". Para irritar quem tinha ficado com a incumbência de apilhar, dávamo-nos ao trabalho de repetir vezes sem fim este "não me apilhas", no melhor tom de desafio que conseguíssemos fazer soar.
A apilhagem nem sequer dos meus jogos preferidos, por ser o mais simples, aquele a que se brincava quando não nos conseguíamos lembrar de mais nenhum jogo, numa espécie de descanso de tantos jogos que sabíamos. A apilhagem era o jogo de que menos gostava mas fiquei com saudades, quando me vi apanhada, apilhada, melhor dizendo, pela surpresa de lhe terem mudado o nome assim, sem aviso, em tão curto espaço de tempo. Parece que foi mesmo há dias; aquintrodia eu ainda brincava à apilhagem e agora a minha filha brinca às apanhadas.
Agora ela já sabe o que é apilhagem e eu também sei o que é o jogo das apanhadas. Talvez deva olhar para esta evolução como um enriquecimento e não como uma perda. Mas custa-me. Apilhagem soava melhor. Apilhar dá muito mais jeito do que apanhar.
"Apilhagem?" Agora foi a vez de ela repetir esta palavra num tom interrogativo, mas que mostrava sobretudo estranheza. "Apilhagem, mãe? Chamavas apilhagem ao jogo das apanhadas?" É verdade. Eu nunca brinquei às apanhadas, mas fartei-me de brincar à apilhagem. Expliquei-lhe que apilhagem vem de apilhar, que significa agarrar, apanhar de surpresa, alcançar, enfim, aquilo que de facto se faz no jogo.
"Não me apilhas, não me apilhas, não me apilhas". Para irritar quem tinha ficado com a incumbência de apilhar, dávamo-nos ao trabalho de repetir vezes sem fim este "não me apilhas", no melhor tom de desafio que conseguíssemos fazer soar.
A apilhagem nem sequer dos meus jogos preferidos, por ser o mais simples, aquele a que se brincava quando não nos conseguíamos lembrar de mais nenhum jogo, numa espécie de descanso de tantos jogos que sabíamos. A apilhagem era o jogo de que menos gostava mas fiquei com saudades, quando me vi apanhada, apilhada, melhor dizendo, pela surpresa de lhe terem mudado o nome assim, sem aviso, em tão curto espaço de tempo. Parece que foi mesmo há dias; aquintrodia eu ainda brincava à apilhagem e agora a minha filha brinca às apanhadas.
Agora ela já sabe o que é apilhagem e eu também sei o que é o jogo das apanhadas. Talvez deva olhar para esta evolução como um enriquecimento e não como uma perda. Mas custa-me. Apilhagem soava melhor. Apilhar dá muito mais jeito do que apanhar.
Comments:
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A apilhagem remete-me igualmente para a minha infância, e era sem dúvida o jogo mais comum entre a miudagem da freguesia. Havia outro que era a matança, mas não a do porco :) Jogava-se com uma bola!
:) a matança, a "apilhage", o lenço (numa roda), a macaca, o lá vai obra, o anel... quem me dera voltar a esses tempos, nem que fosse apenas por um dia
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