quinta-feira, dezembro 02, 2004
Uhuuu
"Uhuuu." Antes da época das campaínhas, era assim, com um apupo no canto do terreiro, que se alertava as pessoas para a nossa presença em sua casa. "Uhuuu." E imediatamente se ouvia de dentro de casa, um "Quem é que venha." Ou então: "Venha sempre." Alguns: "Venha vindo."
Ontem repeti esta forma de campaínha humana, agora tão estranha. Fui visitar a senhora Maria e ao chegar ao canto do terreiro, já debaixo da latada que faz uma sombra agradável, por entre os cântaros de avencas, fetos, antúrios e manhãs-de-páscoa, apupei. "Uhuuu". Ela não respondeu logo, porque estava atrás da casa a fazer arrumações, e eu voltei a apupar: "Uhuuu". A minha filha ficou espantada, se calhar nunca me tinha visto a apupar numa casa à antiga, das que não têm campaínha. Puxou-me pelo braço e pediu-me para me calar, constrangida com aquele som estranho. Deve ter-lhe parecido uma brincadeira. Mas eu voltei a apupar, deliciada com a memória do tempo em que apupávamos à chegada a todas as casas. Todos os dias apupávamos em cantos de terreiro, era um som tão natural e bonito. Agora parecia estranho e eu espantei-me por não ter perdido o jeito. Depois a senhora maria apareceu no canto da casa, e quando nos viu ficou muito contente. Veio buscar-nos e recebeu-nos como se recebiam as pessoas antigamente. Percorremos o jardim a admirar as plantas, sentámo-nos na sala, admirámos as fotografias dos netos colocadas sobre uma mesa de metro muito antiga, conversámos, e antes de nos irmos embora ofereceu-nos bolachas e sumo, e ainda nos deu um saco com goiabas e algumas anonas para levarmos. Que saudades de uma visita assim! Veio passar-nos ao canto do terreiro e convidou-nos para voltar quando quiséssemos, e sem falta na Festa, para vermos a lapinha. E deu-me também um cântaro com um feto de que gostei muito. Um feto antigo, que me lembro de ver em casa da minha mãe e da minha avó, quando era criança.
"Até mais outra, se Deus quiser". Despedimo-nos também como antigamente. "Até mais outra, se Deus quiser."
Ontem repeti esta forma de campaínha humana, agora tão estranha. Fui visitar a senhora Maria e ao chegar ao canto do terreiro, já debaixo da latada que faz uma sombra agradável, por entre os cântaros de avencas, fetos, antúrios e manhãs-de-páscoa, apupei. "Uhuuu". Ela não respondeu logo, porque estava atrás da casa a fazer arrumações, e eu voltei a apupar: "Uhuuu". A minha filha ficou espantada, se calhar nunca me tinha visto a apupar numa casa à antiga, das que não têm campaínha. Puxou-me pelo braço e pediu-me para me calar, constrangida com aquele som estranho. Deve ter-lhe parecido uma brincadeira. Mas eu voltei a apupar, deliciada com a memória do tempo em que apupávamos à chegada a todas as casas. Todos os dias apupávamos em cantos de terreiro, era um som tão natural e bonito. Agora parecia estranho e eu espantei-me por não ter perdido o jeito. Depois a senhora maria apareceu no canto da casa, e quando nos viu ficou muito contente. Veio buscar-nos e recebeu-nos como se recebiam as pessoas antigamente. Percorremos o jardim a admirar as plantas, sentámo-nos na sala, admirámos as fotografias dos netos colocadas sobre uma mesa de metro muito antiga, conversámos, e antes de nos irmos embora ofereceu-nos bolachas e sumo, e ainda nos deu um saco com goiabas e algumas anonas para levarmos. Que saudades de uma visita assim! Veio passar-nos ao canto do terreiro e convidou-nos para voltar quando quiséssemos, e sem falta na Festa, para vermos a lapinha. E deu-me também um cântaro com um feto de que gostei muito. Um feto antigo, que me lembro de ver em casa da minha mãe e da minha avó, quando era criança.
"Até mais outra, se Deus quiser". Despedimo-nos também como antigamente. "Até mais outra, se Deus quiser."