sexta-feira, dezembro 03, 2004
O homem do frangaínho
Certa vez, apareceu lá em casa, vindo não se sabe de onde, um homem estranho. Era muito alto, usava óculos, e trazia uma grande bolsa na mão. Na cabeça, usava um chapéuzinho de pano.
Era raro aparecerem ali pessoas estranhas, que não fossem os adelos, a vender colchas e cobertores. Esse homem não ia vender nada, queria era comprar. Queria coisas da fazenda e insistia tanto que até fazia impressão. As pessoas acabavam por lhe arranjar o que ele queria e lembro-me que, em vez de pagar, ele convencia-as a aceitarem algo em troca. Lá em casa, deixou como pagamento uns bolos já secos.
Depois da primeira vez, parece que o homem "avezou". Passava de vez em quando, vindo da Camacha para baixo, e voltava a insistir, quase obrigando as pessoas a venderem aquilo que tinham para porem na mesa, o comer da fazenda e as galinhas do galinheiro.
Uma vez, o homem cismou que queria um "frangaínho". O homem não parava de insistir, mas a minha mãe não tinha na altura um "frangaínho" para lhe vender. Acabou por indicar-lhe a casa da Ti Carolina, ela devia ter algum. Eu e as minhas irmãs conduzimo-lo pela vereda abaixo, até a casa dela, onde ele conseguiu o que queria, por um preço muito baixo. Afinal, as pessoas do campo deitavam ovos, tiravam bisalhos, criavam-nos e depois comiam-nos em caldo de massa ou em canja, nos dias especiais. Nunca ninguém tinha comprado um "frangaínho", por isso não faziam ideia do preço justo.
A cena do homem da cidade a insistir na compra do "frangaínho" ficou-nos na ideia e foi assim que o baptizámos: "o homem do frangaínho". - "Mãe, vem acolá em cima o homem do frangaínho!" A minha mãe já ficava irritada, por ele ir para lá tirar tempo às pessoas e tentar intrujá-las. O homem deixou de passar depois de uma avisa do meu tio mas aindo hoje nos lembramos do "homem do frangaínho". Anos depois, numa rua do Funchal, vi-o de bolsa na mão e com o seu chapéuzinho de pano na cabeça. Estava apenas mais velho, o resto era tudo igual. Lembro-me de ter sentido uma certa irritação, só de pensar que, em tempos, ele nos tinha considerado pessoas menores, ingénuas, só porque vivíamos no campo.
Esta história surge aqui a propósito da palavra "frangaínho". O diminutivo de frango é franguinho e o de franga é franguinha. Mas nós sempre dissemos "frangaínho" e "frangaínha".
Era raro aparecerem ali pessoas estranhas, que não fossem os adelos, a vender colchas e cobertores. Esse homem não ia vender nada, queria era comprar. Queria coisas da fazenda e insistia tanto que até fazia impressão. As pessoas acabavam por lhe arranjar o que ele queria e lembro-me que, em vez de pagar, ele convencia-as a aceitarem algo em troca. Lá em casa, deixou como pagamento uns bolos já secos.
Depois da primeira vez, parece que o homem "avezou". Passava de vez em quando, vindo da Camacha para baixo, e voltava a insistir, quase obrigando as pessoas a venderem aquilo que tinham para porem na mesa, o comer da fazenda e as galinhas do galinheiro.
Uma vez, o homem cismou que queria um "frangaínho". O homem não parava de insistir, mas a minha mãe não tinha na altura um "frangaínho" para lhe vender. Acabou por indicar-lhe a casa da Ti Carolina, ela devia ter algum. Eu e as minhas irmãs conduzimo-lo pela vereda abaixo, até a casa dela, onde ele conseguiu o que queria, por um preço muito baixo. Afinal, as pessoas do campo deitavam ovos, tiravam bisalhos, criavam-nos e depois comiam-nos em caldo de massa ou em canja, nos dias especiais. Nunca ninguém tinha comprado um "frangaínho", por isso não faziam ideia do preço justo.
A cena do homem da cidade a insistir na compra do "frangaínho" ficou-nos na ideia e foi assim que o baptizámos: "o homem do frangaínho". - "Mãe, vem acolá em cima o homem do frangaínho!" A minha mãe já ficava irritada, por ele ir para lá tirar tempo às pessoas e tentar intrujá-las. O homem deixou de passar depois de uma avisa do meu tio mas aindo hoje nos lembramos do "homem do frangaínho". Anos depois, numa rua do Funchal, vi-o de bolsa na mão e com o seu chapéuzinho de pano na cabeça. Estava apenas mais velho, o resto era tudo igual. Lembro-me de ter sentido uma certa irritação, só de pensar que, em tempos, ele nos tinha considerado pessoas menores, ingénuas, só porque vivíamos no campo.
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