sexta-feira, novembro 12, 2004

Rei, capitão, soldado, ladrão...

"Rei, capitão, soldado, ladrão, menina, bonita, de bom, coração". A cada palavra correspondia uma marca, ou um botão. Molas e colchetes não contavam. Lembro-me de repetir vezes sem conta a lengalenga, enquanto contava as marcas do vestido ou da blusa. Ficava contente se fossem suficientes para chegar à parte da menina. Daí para a frente, a alegria aumentava a cada palavra.
Vesti uma camisola enfeitada com marcas de madrepérola e não resisti: "rei, capitão, soldado, ladrão, menina, bonita, de bom, coração...." São tantas as marcas. Sou uma menina bonita de bom coração e isso tem de ser suficiente para eu pôr um sorriso grande e andar acompanhada dele todo o dia.
Apeteceu-me também usar a palavra marca em vez de botão. Hoje chama-se botões a tudo. Quando eu era criança, as marcas eram achatadas e tinham ao meio dois ou quatro buracos, por onde se seguravam à roupa. Nos botões, os buraquinhos por onde eram cozidos à roupa ficavam por baixo, escondidos. A parte do botão que ficava à mostra podia ser lisa ou arredondada, de metal ou de pérola e não tinha buracos, por isso não se viam as linhas.
Os botões eram mais finos e mais raros do que as marcas. E as marcas de dois buracos eram mais finas do que as de quatro buracos. A seguir, nesta hierarquia, ficavam as molas e os colchetes, bastante usados e sem direito a entrarem na contagem do "rei, capitão, soldado, ladrão, menina, bonita, de bom, coração."
Tenho uma camisola cheia de marcas de madrepérola. Plim. Num toque de magia transformei-me numa menina bonita de bom coração.

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